Nos bastidores da produção de ovos no interior paulista, o mês de julho trouxe um cenário delicado para os avicultores. A tradicional redução no consumo durante as férias escolares voltou a impactar o mercado, pressionando os preços pagos pelo produto e, consequentemente, comprometendo o poder de compra dos produtores frente aos principais insumos da atividade. Dados recentes do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) confirmam essa tendência, revelando uma retração mais acentuada nas cotações dos ovos em comparação àquelas registradas no milho e no farelo de soja — itens essenciais na alimentação das poedeiras.
A combinação entre demanda desaquecida e estoques ainda presentes no mercado contribuiu para o desequilíbrio na relação de troca. Com menor giro da proteína nos pontos de venda e nos canais de distribuição, os ovos brancos e vermelhos registraram quedas expressivas. Em Bastos (SP), maior polo de produção de ovos do país, o preço médio da caixa com 30 dúzias de ovos brancos tipo extra, no modelo a retirar (FOB), encerrou julho a R$ 149,48 — retração de 9,1% em relação a junho. Já os ovos vermelhos tiveram queda ainda mais acentuada, recuando 10,3% e atingindo média de R$ 165,76 por caixa, segundo levantamento do Cepea.
A desvalorização do produto torna mais difícil a sustentação da atividade, especialmente quando se considera que o custo de produção se mantém elevado. Milho e farelo de soja, que juntos representam a maior fatia dos gastos na nutrição das aves, não acompanharam a mesma intensidade de baixa nos preços, o que impôs perdas reais ao produtor. Essa disparidade reduz a margem operacional e acende um alerta no setor, sobretudo entre os pequenos e médios avicultores, que dependem diretamente da comercialização da caixa de ovos para manter o equilíbrio financeiro da granja.
Além disso, a instabilidade no ritmo de compras por parte do atacado e varejo contribuiu para o aumento da concorrência interna, acirrando a disputa por mercados e levando muitos produtores a praticarem preços mais baixos para escoar a produção. Ainda que a oferta não tenha se expandido de forma expressiva, a demanda menor já foi suficiente para gerar um efeito dominó em toda a cadeia, desde o campo até o ponto de venda.