A abertura do mercado japonês para a carne bovina brasileira está próxima de se tornar realidade, e os primeiros embarques devem sair dos estados do Sul. Trata-se de uma conquista histórica para o agronegócio nacional, resultado de um processo que se estende por mais de 20 anos e envolve um dos mercados mais exigentes do mundo em termos de sanidade animal.
Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná foram pioneiros na obtenção do status de área livre de febre aftosa sem vacinação — reconhecimento que só foi alcançado pelo restante do país em maio deste ano. Essa condição é fundamental para atender aos padrões sanitários japoneses, que figuram entre os mais rigorosos do planeta.
Em 2024, o Japão consolidou-se como o terceiro maior importador mundial de carne bovina, adquirindo mais de 700 mil toneladas do produto. Desse total, cerca de 80% vem dos Estados Unidos e da Austrália, segundo dados da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec). A entrada do Brasil nesse mercado representa não apenas uma ampliação das vendas externas, mas também uma oportunidade estratégica de diversificação de destinos, especialmente diante de medidas tarifárias recentes impostas por outros compradores.
Auditorias e avanços nas negociações
Para chegar a esta etapa, o Brasil precisou cumprir 12 fases, incluindo inspeções presenciais conduzidas por autoridades japonesas nos três estados do Sul. As auditorias, já realizadas, são consideradas o passo mais decisivo e devem resultar em um relatório de aprovação que será enviado ao governo federal nas próximas semanas.
Optou-se por iniciar o processo apenas com a região Sul para evitar atrasos que poderiam ocorrer caso fosse solicitado o credenciamento imediato de todo o território nacional. O Japão não concede autorização ampla sem inspeções específicas em cada estado, o que torna o avanço gradual a estratégia mais viável.
Diplomacia para abrir portas
Com o objetivo de acelerar a conclusão do processo, uma comitiva do governo federal desembarcou no Japão no dia 11 deste mês. Liderada pelo secretário de Comércio e Relações Internacionais do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), Luis Rua, a equipe acompanha de perto as tratativas regulatórias que permitirão a entrada da carne bovina brasileira no arquipélago asiático.
Além da proteína bovina, também estão em pauta negociações para ampliar o acesso de carne suína e produtos vegetais brasileiros ao mercado japonês. Em encontro realizado em março, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva destacou que o comércio bilateral já alcançou US$ 17 bilhões no passado, mas atualmente gira em torno de US$ 11 bilhões. Segundo ele, há um potencial de pelo menos US$ 6 bilhões a ser recuperado.