A relação comercial entre Brasil e China, já consolidada como estratégica para ambos os países, enfrenta um impasse desde maio deste ano, quando as exportações brasileiras de produtos avícolas foram suspensas após a confirmação de um caso de gripe aviária em uma granja comercial de Montenegro, no Rio Grande do Sul. Desde então, embarques de carne de frango e derivados para o gigante asiático estão paralisados, impactando diretamente um dos setores mais relevantes da pauta de exportações do agronegócio nacional.
Em uma conversa por telefone que durou cerca de uma hora na noite desta segunda-feira (11), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a pressionar o presidente chinês, Xi Jinping, para que as compras sejam retomadas o quanto antes. Segundo relatos, Lula abordou o tema ao menos três vezes durante o diálogo, destacando não apenas o impacto econômico, mas também o cumprimento, pelo Brasil, das exigências sanitárias internacionais para a reabertura do mercado.
Aval chinês é etapa decisiva
O Brasil recuperou, no fim de junho, o status de país livre de gripe aviária em plantel comercial, reconhecido pela Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA). No entanto, pelo protocolo bilateral vigente, o restabelecimento das exportações depende de validação oficial da Administração Geral de Alfândega da China (GACC), autoridade sanitária responsável por autorizar a habilitação dos frigoríficos exportadores.
Desde junho, o Ministério da Agricultura enviou um dossiê técnico com informações detalhadas sobre o caso, as medidas de contenção adotadas e o monitoramento sanitário. Em julho, a GACC solicitou esclarecimentos adicionais sobre a situação no Rio Grande do Sul e sobre as ações preventivas para evitar novos focos. As respostas foram enviadas, e o governo brasileiro aguardava uma posição final ainda neste mês.
Impacto econômico e histórico de negociações
A China é atualmente o principal comprador do frango brasileiro, absorvendo cerca de 13% de toda a produção exportada. Em 2024, antes da suspensão, o Brasil já havia embarcado 561 mil toneladas do produto para o mercado chinês, movimentando US$ 1,288 bilhão. O impacto da interrupção preocupa o setor, que mantém 51 frigoríficos habilitados para atender a demanda chinesa, todos parados desde maio no que diz respeito a esse destino específico.
Esta não é a primeira vez que Lula atua pessoalmente para destravar barreiras sanitárias impostas por Pequim. Em junho de 2023, ele conseguiu reverter a suspensão da carne bovina brasileira após um caso atípico de mal da vaca louca. Na ocasião, o embargo durou cerca de 20 dias e envolvia um volume expressivo de proteína congelada já embarcada, avaliada em R$ 2,5 bilhões.
Expectativa de retomada
No caso atual, a avaliação do Planalto é de que há espaço político e técnico para uma resolução rápida, especialmente porque o Brasil cumpriu as exigências previstas no acordo sanitário e já conta com reconhecimento internacional da OMSA. O governo brasileiro segue em contato com autoridades chinesas e aposta que a parceria estratégica entre os dois países — que vai além do agronegócio, abrangendo áreas como energia, tecnologia e infraestrutura — possa acelerar a decisão.