O Brasil se prepara para um marco inédito na infraestrutura de transportes: a primeira concessão de uma hidrovia da história nacional. O projeto, encaminhado pelo Ministério de Portos e Aeroportos ao Tribunal de Contas da União (TCU), propõe a concessão do chamado Tramo Sul do Rio Paraguai, uma faixa estratégica que se estende por 600 quilômetros entre Corumbá (MS) e a foz do Rio Apa, na divisa com o Paraguai.
A expectativa é que o leilão ocorra até o fim de 2025, inaugurando um novo ciclo para a navegação interior no país. Com isso, o governo pretende estruturar um modelo permanente de gestão, segurança e fluidez no transporte fluvial, apostando em uma via que conecta de forma eficiente o Centro-Oeste ao sistema logístico nacional e internacional.
Um projeto que ressignifica o transporte de cargas
Apesar do potencial de 60 mil quilômetros navegáveis, o Brasil aproveita pouco mais de 20 mil atualmente. Por isso, a concessão do Tramo Sul surge como um passo essencial para transformar a realidade do transporte hidroviário. A proposta prevê ações concretas, como dragagens contínuas, sinalização permanente e monitoramento hidrográfico em tempo real, o que deve ampliar significativamente a segurança da navegação — inclusive durante a noite.
A hidrovia do Rio Paraguai, que enfrenta atualmente cerca de 65 dias de interdições ao ano, poderá operar com apenas oito dias de bloqueio, de acordo com projeções técnicas. O impacto é direto na previsibilidade do transporte, fator fundamental para cadeias produtivas como a da soja, do minério de ferro e de fertilizantes — fortemente presentes na região.
Em 2024, a estiagem severa provocou queda brusca na movimentação de cargas, com apenas 3,3 milhões de toneladas transportadas no trecho. Com a nova estrutura, o governo projeta triplicar esse volume até 2035, mesmo em cenários climáticos adversos.
Investimento com retorno ambiental e logístico
Com previsão de R$ 43,2 milhões de investimentos nos primeiros cinco anos, o projeto de concessão terá duração inicial de 20 anos, podendo ser prorrogado por até 70. A proposta também traz um diferencial: 20% dos recursos serão destinados exclusivamente à preservação ambiental e ao monitoramento da fauna e flora aquática da região.
Esse cuidado não é por acaso. Estudos recentes apontam que, ao reforçar o transporte fluvial, o Brasil também reduz os impactos causados por caminhões nas rodovias. Apenas em Mato Grosso do Sul, foram registrados mais de 13 mil atropelamentos de animais silvestres em três anos. Além disso, a emissão de poluentes no transporte hidroviário é 27 vezes menor que no modal rodoviário, o que reforça o compromisso brasileiro com o Acordo de Paris e as metas de descarbonização.



