A produção de silagem de milho é, há décadas, uma aliada essencial da pecuária leiteira brasileira, especialmente em regiões com alternância entre períodos chuvosos e estiagens prolongadas. Entretanto, mesmo sendo uma técnica amplamente difundida, a qualidade da silagem ainda é um desafio em muitas propriedades. Perdas no processo de ensilagem e deficiências nutricionais podem comprometer diretamente o desempenho do rebanho, afetando desde o ganho de peso até a produção de leite.
De acordo com o engenheiro agrônomo Fernando Leal, especialista em forragicultura e nutrição animal, o segredo para uma silagem de milho de qualidade começa ainda na escolha do híbrido. “Não basta apenas buscar produtividade de massa. É preciso pensar no valor energético, na digestibilidade da fibra e na proporção entre grãos e colmos”, explica. Essa seleção correta, aliada ao momento ideal de colheita — geralmente quando o grão atinge entre 32% e 35% de matéria seca — é fundamental para garantir um alimento com alta densidade energética e boa fermentação.
Além disso, o manejo no campo influencia diretamente na preservação dos nutrientes. O corte com altura adequada, geralmente entre 30 a 40 cm do solo, reduz a presença de solo na massa ensilada e diminui o risco de contaminação por microrganismos indesejados. O teor de matéria seca, por sua vez, precisa ser ajustado para garantir uma compactação eficiente, já que o oxigênio residual é o principal inimigo da fermentação.
Segundo a zootecnista Camila Bernardes, consultora em sistemas integrados de produção, um dos erros mais comuns está na compactação e na vedação dos silos. “Muitos produtores ainda negligenciam o fechamento adequado. Qualquer entrada de ar favorece a proliferação de fungos e leveduras, que degradam os açúcares e comprometem o valor nutricional da forragem”, alerta. A recomendação é realizar o enchimento do silo de forma rápida, em até 48 horas, compactando em camadas finas e com o uso de lona dupla de qualidade.
Outro ponto crucial está no monitoramento da silagem após a abertura do silo. Para evitar perdas, a retirada diária precisa ser feita com superfície limpa e uniforme, respeitando o avanço mínimo de 25 a 30 cm por dia, dependendo da temperatura ambiente. Além disso, é importante manter a face de corte o mais lisa possível, evitando o aquecimento da massa e a degradação aeróbica.
Camila também destaca que o uso de inoculantes pode trazer benefícios significativos. “Esses aditivos aceleram o processo de fermentação lática e reduzem o pH mais rapidamente, o que inibe bactérias indesejadas. O investimento é baixo quando comparado ao ganho em qualidade e conservação da silagem”, afirma.
Outro aspecto estratégico é o planejamento da logística de armazenamento e distribuição. Silos mal dimensionados ou com acesso difícil podem causar atrasos na operação e comprometer o fornecimento adequado ao gado. Assim, o alinhamento entre a área plantada, a capacidade do silo e o tamanho do rebanho garante maior eficiência e evita desperdícios.
Embora os desafios sejam muitos, a silagem de milho bem-feita representa um dos pilares mais sólidos para sustentar a produção leiteira em sistemas intensivos. Com pequenas correções no manejo, é possível transformar uma prática rotineira em uma fonte de nutrição estratégica para o rebanho, elevando a produtividade e a rentabilidade da propriedade.