A Amazônia Legal está prestes a se tornar um dos principais polos da agricultura brasileira, não apenas por seu potencial produtivo, mas também pelos desafios que essa expansão impõe à logística e à preservação ambiental. De acordo com projeções do Plano Nacional de Logística (PNL) 2050, a produção de soja na região poderá quase dobrar nas próximas décadas, saltando de 50 para 95 milhões de toneladas. O milho, por sua vez, tem potencial para quase triplicar, podendo alcançar 133 milhões de toneladas até meados do século.
Esse avanço significativo, impulsionado por fatores econômicos e tecnológicos, tende a redesenhar o mapa da produção agrícola nacional. Contudo, a infraestrutura atual ainda é insuficiente para absorver essa nova demanda. Estima-se que, juntos, soja e milho representarão mais de 60% da produção agrícola na Amazônia Legal em 2050, o que exigirá intervenções profundas no sistema de transporte da região — especialmente em modais como rodovias, ferrovias e hidrovias.
A infraestrutura como elo decisivo
O PNL 2050 aponta para a necessidade de um novo modelo logístico que vá além da tradicional exportação de commodities. Para isso, o plano busca integrar critérios técnicos e socioambientais desde o início do planejamento. Pela primeira vez, o Ministério dos Transportes adota uma abordagem mais participativa, abrindo espaço para a sociedade civil e priorizando a análise de impactos ambientais e sociais das obras previstas.
Essa mudança de postura reflete um esforço para corrigir deficiências históricas de planos anteriores, que muitas vezes pecaram pela baixa transparência e pela ausência de alternativas sustentáveis. Ao alinhar as obras de infraestrutura a outras políticas públicas, como o Plano de Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal (PPCDAm), a proposta é evitar que a expansão agrícola se traduza em aumento do desmatamento.
Caminhos para um desenvolvimento sustentável
A bioeconomia surge como um dos pilares estratégicos para compatibilizar desenvolvimento e preservação. No contexto amazônico, ela depende diretamente da existência de infraestrutura adequada, não apenas para escoar a produção, mas também para fortalecer cadeias produtivas locais e gerar valor à floresta em pé. Nesse sentido, o crescimento da produção de grãos deve ser acompanhado de ações integradas que promovam um modelo mais equilibrado e inclusivo.
Outro ponto crucial está na ruptura com a lógica tradicional de grandes empreendimentos voltados exclusivamente à exportação. As soluções logísticas propostas até 2050 precisam considerar também o impacto nas comunidades locais e oferecer acesso às populações amazônicas, o que contribuiria para uma ocupação mais justa do território e a promoção da economia regional.