Uma nova etapa na trajetória de reconhecimento da qualidade dos produtos agrícolas brasileiros foi inaugurada esta semana. Pela primeira vez, uma carga de lima ácida (limão Tahiti) com destino à União Europeia saiu do Brasil com um certificado oficial de conformidade que atesta não apenas a fitossanidade, mas também a qualidade da fruta. A emissão desse documento marca um avanço importante para o setor de frutas frescas, especialmente no que se refere à agilidade no processo de inspeção nos países de destino.
O certificado foi apresentado no Aeroporto Internacional de Guarulhos, em São Paulo, onde opera uma das unidades do Vigiagro — o sistema de Vigilância Agropecuária Internacional mantido pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa). Emitido de forma totalmente eletrônica, o documento segue os padrões da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), atendendo requisitos de segurança, rastreabilidade e eficiência.
Uma certificação que consolida confiança
Segundo Hugo Caruso, diretor do Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Vegetal (Dipov) do Mapa, a certificação da qualidade representa um avanço adicional às exigências já cumpridas em relação à sanidade vegetal. “A comprovação da qualidade é a etapa que faltava para consolidar o Brasil como fornecedor com alto padrão. Agora é preciso que a União Europeia reconheça oficialmente esse esforço”, declarou o dirigente. O pedido de reconhecimento já foi formalizado, e a emissão deste primeiro certificado é o passo inicial para que o país entre no rol de exportadores com qualidade atestada oficialmente.
Esse avanço é fruto de um longo trabalho técnico. A capacitação das equipes começou em 2018, com treinamentos realizados na Ceagesp, em São Paulo, e ganhou força a partir de 2022, com a formação dos fiscais do Vigiagro na sede da Superintendência Federal de Agricultura e Pecuária de São Paulo (SFA-SP). Essas ações permitiram a habilitação de servidores para realizarem inspeções por amostragem, baseadas nos parâmetros definidos pela OCDE.
Pioneirismo na prática: o caso da Andrade Sun Farms
A carga certificada pertence à Andrade Sun Farms Agroindustrial, empresa que se tornou a primeira a receber o selo de conformidade OCDE para frutas no Brasil. A produção dos limões ocorre nas regiões de Mogi Mirim (SP), Mogi Guaçu (SP) e Paraguaçu (MG) — polos reconhecidos pela excelência na citricultura.
De acordo com a inspetora de qualidade da empresa, Renata Imperato, o certificado é mais do que uma formalidade: ele tem impacto direto na vida útil da fruta e na eficiência logística. Isso porque, mesmo com o uso de contêineres refrigerados e climatizados, os citros enfrentam cerca de 25 dias de viagem até a Europa, além de atrasos médios de até 13 dias nos portos e inspeções no destino que podem levar quase uma semana.
“Cada hora conta quando estamos lidando com produtos perecíveis. Ter a certificação reconhecida pode reduzir significativamente os atrasos no desembaraço”, afirmou Renata.
Redução de amostras e agilidade no desembarque
Com a adoção desse certificado, a expectativa do Mapa é de que a porcentagem de amostras inspecionadas no país de destino caia de 60% para apenas 5%, acelerando todo o processo de liberação aduaneira. Isso significa que os produtos devem chegar às prateleiras dos supermercados europeus com maior frescor, menor risco de perdas e melhor competitividade.
Além de facilitar a logística, o certificado eleva o padrão de governança e transparência das exportações brasileiras. “Queremos que essa conquista sirva de inspiração para outras cadeias produtivas e que o Brasil siga atuando ativamente na construção das brochuras da OCDE, que funcionam como guias oficiais de qualidade das frutas”, destacou Hugo Caruso.