Nem mesmo as tarifas impostas pelos Estados Unidos conseguiram conter o avanço das exportações brasileiras de carne bovina. Em um cenário global marcado por incertezas comerciais, o setor demonstrou resiliência ao redirecionar seus embarques para mercados alternativos e, com isso, manter o fôlego nas vendas internacionais. Países como México e Rússia emergiram como destinos estratégicos, enquanto a China segue sendo a grande esperança de impulso nos próximos meses.
Diversificação de mercados reduz impacto da tarifa americana
Apesar do novo “tarifaço” aplicado pelos Estados Unidos, que reduziu os embarques brasileiros para aquele mercado, a carne bovina nacional manteve sua presença global de forma consistente. Em abril, o envio de proteína ao território norte-americano havia batido recorde por conta da sazonalidade e da escassez de oferta local. Porém, a mudança nas tarifas em agosto impactou os volumes. Ainda assim, as exportações não foram zeradas — o que demonstra um esforço da indústria brasileira para manter-se presente no mercado norte-americano, mesmo com margens pressionadas.
Enquanto isso, países que tradicionalmente não ocupavam posições de destaque no ranking de compradores ganharam protagonismo. Os dados da Secretaria de Comércio Exterior mostram que os embarques in natura chegaram a 276,9 mil toneladas em julho — o maior volume registrado — e, mesmo com a nova taxação, a redução em agosto foi tímida: apenas 3%, com 268,5 mil toneladas exportadas.
México e Rússia ampliam presença nas importações brasileiras
Entre os destaques do bimestre, o México mostrou apetite crescente pela carne bovina brasileira. Desde junho, o país latino-americano vem importando volumes superiores aos dos Estados Unidos, consolidando-se como um parceiro comercial relevante. Em julho, por exemplo, foram 15,6 mil toneladas, e em agosto, ainda com leve retração, a marca superou 13 mil toneladas. A Rússia também surpreendeu o mercado ao alcançar, em agosto, seu maior volume de compras desde 2017, com 12,4 mil toneladas embarcadas.
A entrada desses novos protagonistas compensou, em grande parte, a retração americana. Com isso, a carne bovina brasileira conseguiu preservar seu desempenho sem recorrer a cortes drásticos de produção ou prejuízos nas margens das indústrias exportadoras.
Retomada chinesa deve aquecer ainda mais o segundo semestre
A grande expectativa, agora, recai sobre a China. Julho e agosto registraram os maiores volumes do ano com destino ao gigante asiático, e setembro já apresenta ritmo acelerado, com uma melhora gradual nos preços em dólar. Essa retomada chinesa tende a consolidar a posição do Brasil como fornecedor estratégico, principalmente diante da disputa comercial entre Estados Unidos e outros players asiáticos.
Com o preço do boi controlado no mercado interno e a valorização das exportações em dólar, a indústria conseguiu manter margens atrativas. Essa estabilidade no custo da matéria-prima favorece a competitividade do produto brasileiro no exterior, mesmo diante de oscilações cambiais e pressões inflacionárias globais. Entretanto, no mercado doméstico, o cenário é menos animador. A demanda interna permanece desaquecida, o que limita o espaço para recuperação de preços e deixa o varejo em compasso de espera.