A cana-de-açúcar, símbolo da agroindústria brasileira, ganha agora uma nova aliada na busca por mais produtividade e sustentabilidade: o biochar. Em uma iniciativa inédita voltada especificamente para essa cultura, a empresa NetZero anunciou a instalação de sua primeira planta de produção do material em território mineiro, marcando o início de uma nova fase para o aproveitamento inteligente dos resíduos agrícolas.
Localizada estrategicamente em uma fazenda próxima a polos produtores de açúcar e etanol, a estrutura será capaz de transformar o bagaço e a palha da cana — subprodutos antes descartados — em um composto de alto valor para o solo. O biochar é produzido por pirólise, um processo térmico que aquece a biomassa na ausência de oxigênio, gerando um carvão vegetal de estrutura porosa, capaz de reter água e nutrientes, além de reduzir emissões de carbono ao solo.
Mais que reaproveitamento: uma solução regenerativa para o solo
A proposta não é apenas evitar o desperdício de materiais ricos em carbono, mas também dar a eles um novo papel na dinâmica do cultivo agrícola. O biochar funciona como um corretivo ambiental: melhora a estrutura do solo, aumenta sua capacidade de armazenar água e nutrientes, e libera gradualmente esses elementos para as raízes — o que se mostra especialmente vantajoso em períodos de estiagem.
A própria NetZero destaca que o produto pode beneficiar diversas culturas além da cana, como hortaliças, flores e café, atuando como um regenerador natural para solos exauridos. No caso específico da cana-de-açúcar, o uso dos resíduos para fabricar o biochar simboliza um avanço expressivo rumo à chamada economia circular, onde tudo se transforma e nenhum resíduo é deixado para trás.
Minas é o ponto de partida; Goiás será a próxima rota
A planta mineira tem inauguração prevista para fevereiro de 2026, mas os planos da empresa vão além. Já está em andamento uma parceria com a companhia Ativos para levar o mesmo modelo a Goiás, estado com grande relevância na cadeia sucroenergética nacional. A expansão confirma que o biochar não é uma solução experimental, mas sim uma tecnologia com potencial de escala para todo o setor agrícola brasileiro.
Com isso, o biochar passa a integrar a lógica produtiva como uma ferramenta estratégica. Além de gerar ganhos agronômicos, ele ajuda a mitigar as emissões de gases como CO₂ e metano, pois impede que a decomposição da palha e do bagaço ocorra de forma descontrolada no meio ambiente. Ao ser convertido em carvão estável, o carbono se fixa no solo, promovendo ganhos climáticos e econômicos ao mesmo tempo.