Ao longo de uma semana intensa no mês de setembro, o Brasil se transformou em palco de uma importante cooperação internacional que pode redesenhar o futuro da produção agrícola em países tropicais e áridos. Seis pesquisadores e representantes técnicos vindos de Omã, na Península Arábica, desembarcaram em Aracaju (SE) para uma missão de intercâmbio técnico com especialistas da Embrapa Tabuleiros Costeiros. O foco era claro: conhecer de perto o manejo de pragas aplicado aos coqueirais brasileiros — em especial o controle da broca-do-olho — e entender como essas estratégias poderiam ser adaptadas ao combate ao bicudo-vermelho, praga que devasta tamareiras no Oriente Médio.
A visita teve como base o princípio da cooperação técnico-científica entre os países, articulada com apoio da Agência Brasileira de Cooperação (ABC), do Ministério das Relações Exteriores. O encontro marcou um passo concreto rumo à integração de conhecimentos em fitossanidade e controle biológico, com perspectiva de gerar impactos positivos tanto nas lavouras brasileiras quanto nos oásis agrícolas omanis.
Métodos sustentáveis e tecnologia tropical
Durante os cinco dias de atividades, os profissionais de Omã acompanharam de perto as soluções desenvolvidas pela Embrapa para o controle da broca-do-olho do coqueiro, uma praga que, apesar de danosa, apresenta comportamento menos agressivo que o bicudo-vermelho encontrado no Oriente Médio. Ainda assim, o modo como os cientistas brasileiros têm tratado o problema se mostrou uma referência inspiradora.
As visitas aos laboratórios revelaram técnicas que mesclam armadilhas de baixo custo, aplicação de inimigos naturais e uso de fungos entomopatogênicos — microrganismos capazes de colonizar e eliminar os besouros. Além disso, o monitoramento comportamental e o uso de soluções biológicas como alternativa ao controle químico foram amplamente discutidos, chamando a atenção da delegação visitante por seu potencial de replicação em climas áridos.
A ciência no campo: experiências práticas no litoral e interior
Mais do que teoria, o programa de cooperação técnica proporcionou uma imersão real nas lavouras do Nordeste brasileiro. As primeiras visitas a campo aconteceram no município de Itaporanga d’Ajuda, em Sergipe, onde está localizado o campo experimental da Embrapa. Nesse espaço, são mantidos bancos genéticos de coqueiros e conduzidos experimentos sobre melhoramento vegetal e sistemas produtivos integrados. Já na Bahia, em Valença, os pesquisadores conheceram lavouras de coco e dendê onde as equipes brasileiras têm coletado e monitorado pragas como a broca-do-olho.
Nessas áreas, o manejo integrado de pragas é colocado em prática com o uso contínuo de armadilhas, técnicas culturais e soluções biológicas adaptadas à realidade dos produtores locais. Aliás, esse contato direto com os desafios e soluções aplicadas em campo reforçou a viabilidade de adaptação das estratégias brasileiras ao contexto omani, sobretudo em relação à agricultura irrigada em regiões de clima quente e seco.
Cooperação internacional como ferramenta de inovação agrícola
O encerramento da visita foi marcado por uma reunião estratégica entre as delegações, que oficializou a intenção mútua de construir uma parceria contínua para o desenvolvimento de soluções específicas voltadas ao bicudo-vermelho. Além de transferir tecnologia, a proposta é validar metodologias por meio de projetos de pesquisa conjuntos. A ênfase será no uso de insumos biológicos e práticas sustentáveis, com foco na preservação do meio ambiente e na eficiência agronômica.
Para o Brasil, a aproximação com um país que já convive com o bicudo-vermelho representa também uma oportunidade de antecipar estratégias para lidar com a praga, caso ela se estabeleça em território nacional. Essa troca de experiências reforça o papel da ciência brasileira como protagonista global na busca por soluções sustentáveis para os desafios da agricultura moderna.