A imensidão azul que cobre mais de dois terços do planeta deixou de ser pano de fundo para se tornar protagonista da inovação científica brasileira. Em 2025, o oceano passa a ocupar o centro das estratégias do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), com ações que envolvem desde pesquisas de ponta no continente antártico até políticas públicas voltadas à educação básica. O avanço se torna ainda mais simbólico na 22ª Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, que adota como tema central o lema “Planeta Água: Cultura Oceânica para Enfrentar as Mudanças Climáticas no Meu Território”.
Com mais de 70 eventos previstos em 65 municípios brasileiros, a SNCT 2025 espera impactar mais de 100 mil pessoas em uma mobilização nacional que une ciência e cidadania. O objetivo é claro: transformar o conhecimento sobre os oceanos em atitudes concretas capazes de mitigar os efeitos da crise climática e fortalecer a relação da sociedade com o mar.
Da educação à política pública: o Currículo Azul
Em abril de 2025, o Brasil se tornou o primeiro país do mundo a oficializar a inserção da Cultura Oceânica no currículo escolar nacional, em uma iniciativa reconhecida pela Unesco. A proposta é simples e transformadora: levar às salas de aula a consciência de que o oceano não é um universo distante, mas parte vital do cotidiano, da economia e da sobrevivência humana.
Essa visão educativa está no cerne do projeto Currículo Azul, que consolida a união entre ciência e ensino fundamental. A abordagem prevê conteúdos estruturados com base em evidências científicas, alinhados com compromissos internacionais e capazes de formar novas gerações de cidadãos conscientes do papel essencial dos mares e oceanos.
A Década do Oceano e o reconhecimento internacional
O destaque do Brasil não para na esfera interna. Em junho de 2025, a Comissão Oceanográfica Intergovernamental (COI) confirmou o Rio de Janeiro como sede da Conferência da Década do Oceano, a ser realizada em 2027. O anúncio consolida o país como um polo global nas discussões sobre ciência oceânica, sustentabilidade e justiça climática.
A escolha da capital fluminense simboliza o reconhecimento da agenda nacional, que reúne inovação, inclusão social e protagonismo ambiental. A liderança brasileira em temas como educação oceânica, ciência aplicada e monitoramento ambiental agora influencia a estruturação de políticas internacionais que buscam frear a degradação dos mares.
Poluição plástica e microplásticos na Antártica
Entretanto, enquanto avança em políticas e reconhecimento, o Brasil também enfrenta desafios expressivos. Segundo relatório divulgado em 2024, o país despeja aproximadamente 1,3 milhão de toneladas de plástico no oceano por ano, figurando entre os oito maiores poluidores do planeta. O problema é agravado por práticas cotidianas e ausência de políticas mais rigorosas sobre o descarte de plásticos de uso único.
Nesse cenário, o Programa Antártico Brasileiro (Proantar) desempenha um papel estratégico ao ampliar a presença científica do Brasil na região polar. Em parceria com o Instituto Antártico Argentino e a Agência Internacional de Energia Atômica, pesquisadores brasileiros participaram de investigações que analisam a presença de microplásticos nas águas, nos sedimentos e até nas fezes dos pinguins da Antártica.
A pesquisa faz parte do projeto Nutec Plastics e utiliza técnicas de ciência nuclear para medir a contaminação invisível que avança até os extremos do planeta. Além de reforçar o compromisso científico do Brasil, os dados obtidos no Proantar são cruciais para entender os efeitos globais das mudanças climáticas e seu impacto sobre o território nacional
Oceano quente, planeta em alerta
Desde 2023, cientistas alertam para o estado crítico dos oceanos, que vêm registrando temperaturas recordes e níveis inéditos de calor acumulado. O fenômeno intensifica eventos climáticos extremos, acelera a perda de biodiversidade e afeta diretamente populações costeiras.
Nesse contexto, a valorização da Cultura Oceânica não é apenas um instrumento educativo, mas um pilar da resiliência climática. Afinal, entender os oceanos como reguladores do clima global — e não apenas como espaços geográficos — é fundamental para prever impactos, orientar políticas públicas e desenvolver soluções tecnológicas eficazes.
Economia Azul e inovação aplicada à sustentabilidade
A valorização do oceano também é um vetor de crescimento econômico. A chamada Economia Azul movimenta entre US$ 3 trilhões e US$ 6 trilhões por ano em setores como turismo costeiro, pesca, energia marinha e transporte. Estima-se que 600 milhões de pessoas em todo o mundo dependam diretamente da pesca oceânica para sua alimentação.
No Brasil, o MCTI tem fortalecido a atuação em áreas como biotecnologia marinha, segurança alimentar e sistemas de monitoramento de ilhas e zonas costeiras, com ênfase em inovação sustentável. Na SNCT 2025, o tema do oceano surge como ponto de convergência entre tecnologia, ciência e políticas públicas — evidenciando que as soluções para o futuro do planeta podem emergir das águas que hoje ainda sofrem com o descaso humano.