Entre as montanhas áridas e ensolaradas dos Andes, onde o ar é rarefeito e o frio noturno desafia até as plantas mais resistentes, cresce uma espécie que carrega em si o espírito da sobrevivência. O Oreocereus celsianus, conhecido popularmente como velho-dos-Andes ou velho-da-montanha, chama atenção pela aparência inconfundível: uma camada de fios brancos e sedosos que envolvem seu corpo como uma barba esvoaçante, símbolo natural da longevidade e da força.
Segundo a jardineira Alice Barra, do Terrários & Suculentas, “nos Andes, ele é comparado a sentinelas que parecem vigiar as montanhas do alto”. A planta, que habita regiões de alta altitude na Argentina, Bolívia e Peru, evoluiu para resistir às condições extremas do clima andino. Sua “penugem” — formada por tricomas, filamentos brancos e delicados — tem uma função essencial: proteger o cacto tanto da radiação solar intensa quanto das baixas temperaturas das noites geladas.
Uma planta com simbolismo ancestral
A imponência do velho-dos-Andes não se limita à estética. Algumas comunidades locais o consideram um símbolo sagrado, associando sua resistência às forças espirituais das montanhas. “É uma planta vista como representação da força e da persistência da vida, capaz de suportar o que muitas outras espécies não conseguem”, comenta a botânica Janie Garcia da Silva, mestre em Botânica pela Universidade Federal Fluminense (UFF).

Na natureza, suas hastes colunares, em tons que variam entre o verde-acinzentado e o prateado, podem atingir até seis metros de altura. Já em ambientes domésticos, o crescimento é mais contido, o que o torna ideal para colecionadores de cactos e projetos de paisagismo que valorizam espécies exóticas e esculturais.
Como cultivar o velho-dos-Andes em casa
Apesar de sua origem nas encostas frias e secas dos Andes, o cacto adapta-se bem ao cultivo em vasos ou jardins brasileiros, desde que algumas condições sejam respeitadas. O segredo está no substrato leve e bem drenado, com predominância de areia grossa e pequenos pedriscos — combinação que impede o acúmulo de umidade nas raízes.

“Este cacto vive em condições extremas de temperatura, que vão do calor intenso ao frio noturno. Ainda assim, cresce bem em ambientes entre 15 °C e 38 °C, desde que receba pelo menos seis horas diárias de sol pleno”, explica Janie Garcia da Silva. A rega deve ser moderada e espaçada, apenas quando o solo estiver completamente seco, evitando qualquer risco de apodrecimento.
Dentro de casa, ele prefere locais claros e bem ventilados. Em vasos de barro, que favorecem a evaporação da umidade, recomenda-se regar até que a água escorra pelo fundo e só repetir o processo quando o substrato estiver novamente seco. Por seu crescimento lento, o velho-dos-Andes pode levar anos para atingir tamanho expressivo, mas, em compensação, vive até meio século — uma verdadeira joia botânica de longa duração.
Flores raras e beleza perene
A floração é um espetáculo reservado aos mais pacientes. Em cultivo, o velho-dos-Andes costuma florescer apenas após cerca de dez anos, entre a primavera e o verão. Suas flores tubulares, que variam entre rosadas e avermelhadas, surgem durante o dia e contrastam com o tom prateado da penugem. “Para florescer, precisa de exposição solar intensa e constante. Em ambientes internos, dificilmente isso ocorre”, observa Alice Barra.

Mesmo sem flores, o cacto mantém sua elegância natural. A textura dos tricomas e o brilho leitoso das hastes criam um efeito decorativo marcante, especialmente em jardins secos e arranjos minimalistas. “Os cactos são muito versáteis na decoração, mas acredito que quem gosta de um estilo mais boho ou desértico encontra no velho-dos-Andes um aliado perfeito”, comenta Alice.
Cuidados e dicas de manutenção
Em regiões úmidas ou chuvosas do Brasil, o maior desafio está em evitar o excesso de água. Nessas situações, o ideal é abrigar os vasos sob coberturas durante o período de chuva e garantir boa circulação de ar. Uma dica prática é girar o vaso a cada 15 dias, garantindo que todos os lados recebam luz uniformemente e evitando o crescimento inclinado.
O velho-dos-Andes não é uma planta tóxica, mas seus espinhos longos e afiados exigem cuidado redobrado em casas com crianças ou animais de estimação.
Símbolo de resistência e harmonia com a natureza, o Oreocereus celsianus é muito mais que um cacto ornamental — é uma pequena escultura viva que traduz a força silenciosa das montanhas andinas, transformando qualquer espaço em um convite à contemplação.