Resumo
O LumiBot, robô criado pela Embrapa, utiliza luz ultravioleta e inteligência artificial para detectar nematoides em plantas antes dos sintomas visíveis, revolucionando o diagnóstico precoce no campo.
A tecnologia ajuda a combater perdas bilionárias causadas pelos nematoides, que comprometem lavouras de soja e algodão, atingindo até 50% da produção em áreas infestadas.
O sistema capta a fluorescência das folhas e analisa padrões bioquímicos em poucos segundos, alcançando mais de 80% de precisão na identificação de doenças e estresses nas plantas.
Com o mapeamento das áreas afetadas, o robô permite aplicar defensivos apenas onde há infecção, reduzindo custos, desperdício e impacto ambiental no manejo agrícola.
Após três anos de testes bem-sucedidos, o LumiBot avança para adaptação em campo, consolidando o Brasil na vanguarda da agricultura de precisão e sustentável.
A revolução tecnológica no campo acaba de ganhar um reforço promissor. Desenvolvido por pesquisadores da Embrapa Instrumentação, um sistema robótico batizado de LumiBot surge como esperança para o controle precoce de uma das pragas mais silenciosas — e devastadoras — das lavouras brasileiras: os nematoides. A proposta é audaciosa, mas extremamente necessária.
Utilizando uma inovadora combinação de luz ultravioleta e inteligência artificial, o equipamento promete identificar infecções nas plantas antes mesmo que os sintomas se manifestem a olho nu, oferecendo um salto significativo na prevenção e no manejo das perdas no algodão e na soja.
Prejuízos que escavam bilhões
Os nematoides, vermes microscópicos que infestam raízes e tecidos vegetais, provocam prejuízos incalculáveis ao agronegócio. Só na cultura da soja, estima-se que os danos ultrapassem os R$ 27 bilhões anuais. No algodão, as perdas somam outros R$ 4 bilhões, comprometendo não apenas a produtividade, mas a viabilidade de cultivo em áreas inteiras do território nacional.
Em lavouras do Mato Grosso, por exemplo, há registros de perdas acima de 50% em casos críticos. Frente à expectativa de safra recorde em 2025/26, com estimativas superiores a 177 milhões de toneladas de soja e mais de 4 milhões de toneladas de algodão, esse risco torna-se ainda mais alarmante
Diagnóstico precoce com tecnologia de ponta
O funcionamento do LumiBot é quase como uma vigília silenciosa. Durante a noite, ele percorre trilhos entre as fileiras de cultivo, iluminando as folhas com luz ultravioleta e registrando a fluorescência provocada por compostos como clorofila e metabólitos secundários.

Em apenas sete segundos por amostra, o robô capta imagens que revelam alterações bioquímicas sutis — muitas vezes imperceptíveis a olho nu — associadas à presença dos parasitas. Essa técnica, chamada de Imagem de Fluorescência Induzida por LED (LIFI), é não destrutiva e altamente eficiente na diferenciação entre estresses causados por pragas e deficiências nutricionais ou falta de água.
Precisão que transforma o manejo agrícola
Ao integrar algoritmos de aprendizado de máquina ao processo, o sistema interpreta padrões nas imagens capturadas, alcançando uma taxa de acerto superior a 80% no reconhecimento de infecções por nematoides. Mais do que detectar, o LumiBot permite mapear com precisão as áreas afetadas, criando uma base estratégica para ações pontuais no controle da praga.
Em vez da pulverização generalizada, o produtor pode agir diretamente nos focos identificados — uma abordagem que economiza insumos e preserva o solo e os lençóis freáticos do impacto excessivo de produtos químicos.
Testes rigorosos em ambiente controlado
O robô passou por três anos de testes em casa de vegetação, onde foram analisadas cerca de 400 plantas de algodão e soja divididas em diferentes condições: solo seco, controle, infecção por Aphelenchoides besseyi e Rotylenchulus reniformis — dois dos nematoides mais frequentes nas lavouras brasileiras. Ao todo, mais de sete mil imagens foram capturadas e analisadas, permitindo ao sistema aprimorar sua capacidade de diagnóstico. Os resultados, até aqui, são animadores e colocam o projeto em rota de transição para testes em campo aberto.
Caminho aberto para a agricultura de precisão
A próxima etapa prevê adaptar o sistema para operar integrado a veículos agrícolas, como pulverizadores do tipo gafanhoto ou plataformas autônomas. O objetivo é tornar a tecnologia acessível ao ambiente real das lavouras comerciais, com maior alcance e aplicação em larga escala.

A iniciativa faz parte da rede Itech-Agro da Embrapa, que investe na integração de tecnologias habilitadoras para aumentar a eficiência das cadeias produtivas. A empresa de automação Equitron, de São Carlos (SP), é responsável pelo desenvolvimento do projeto físico e do sistema de automação embarcado.
Uma resposta à urgência do campo
O desenvolvimento do LumiBot não é apenas um feito técnico, mas um reflexo das demandas urgentes do agronegócio brasileiro. A subnotificação de infestações por nematoides ainda é um problema recorrente, dificultando o manejo adequado e amplificando os impactos sobre a produtividade.
Embora os danos mais notórios ocorram na soja e no algodão, essas pragas já afetam diversas outras culturas pelo país, exigindo soluções mais precisas, sustentáveis e inteligentes. Nesse contexto, a proposta do LumiBot não é apenas promissora — é necessária. Uma ferramenta que une ciência, tecnologia e sensibilidade para enxergar onde os olhos humanos não veem.



