Resumo
• Espécies invasoras geram prejuízos bilionários ao redor do mundo e ameaçam ecossistemas brasileiros pela competição com plantas nativas.
• O Brasil já registra mais de 500 espécies não-nativas que impactam diretamente a biodiversidade e serviços ambientais essenciais.
• Plantas como leucena, lírio‑do‑brejo e capim‑colonião se expandem rapidamente e transformam habitats urbanos e rurais.
• Iniciativas de ciência cidadã, como o uso do iNaturalist, permitem que a população ajude no monitoramento de espécies invasoras.
• O Paraná lidera ações de combate com um observatório que mapeia ocorrências e orienta estratégias de manejo para proteger os biomas.
Enquanto muitas vezes são admiradas pela beleza ou pela facilidade de cultivo, as plantas não-nativas escondem um impacto profundo e preocupante sobre o equilíbrio dos ecossistemas. Um estudo publicado na revista Agriculture, Ecosystems & Environment revelou que a presença de espécies exóticas — sejam elas vegetais, animais ou micro-organismos — representa um custo global superior a US$ 330 bilhões por ano. O Brasil, que concentra uma das maiores biodiversidades do planeta, é um dos países mais afetados por esse fenômeno silencioso.
Segundo o Jornal da USP, cerca de 500 espécies foram introduzidas artificialmente no território nacional, muitas delas com potencial invasivo. A ausência de predadores naturais, aliada à rápida adaptação ao ambiente, permite que essas plantas se espalhem com facilidade, competindo por recursos como solo, luz e água com as espécies nativas. O resultado é um desequilíbrio ecológico crescente, com perda de biodiversidade, colapso de cadeias alimentares e danos socioeconômicos severos.
Impacto ambiental e ameaça aos ecossistemas brasileiros
A invasão biológica é hoje uma das principais causas de perda de biodiversidade no mundo. No Brasil, a situação é ainda mais delicada. Espécies como a leucena (Leucaena leucocephala), o lírio-do-brejo (Hedychium coronarium) e o capim-colonião (Urochloa maxima) são exemplos de plantas não-nativas amplamente encontradas em centros urbanos e áreas rurais. Essas espécies se proliferam com facilidade e ocupam rapidamente espaços antes dominados por vegetações nativas, alterando profundamente a composição dos ecossistemas locais.
Com o crescimento desordenado dessas espécies, muitos biomas brasileiros estão sendo remodelados de forma irreversível. A substituição da flora nativa por plantas invasoras desencadeia uma série de efeitos em cascata: da extinção de polinizadores específicos à perda de serviços ecossistêmicos fundamentais, como a regulação climática e a purificação da água.
Tecnologia, ciência cidadã e mobilização social
Diante desse cenário preocupante, cientistas do projeto NAPI Biodiversidade: Serviços Ecossistêmicos têm se mobilizado para criar ferramentas que envolvam a população no combate às espécies invasoras. Uma das iniciativas mais inovadoras é o uso do aplicativo iNaturalist, que permite o registro fotográfico de espécies não-nativas observadas em áreas urbanas.

O objetivo é formar uma grande rede colaborativa de monitoramento. Com a ajuda da população, os pesquisadores pretendem mapear a presença dessas espécies, em especial na região de Foz do Iguaçu, que servirá como projeto-piloto. Os dados coletados alimentarão uma base de monitoramento internacional, contribuindo diretamente para a formulação de políticas públicas de controle e manejo ambiental.
Além da função de alerta, essa abordagem tem forte caráter educativo. Ao transformar cidadãos em agentes ativos na defesa da biodiversidade, fortalece-se o vínculo entre ciência e sociedade. E mais do que isso: cria-se um novo tipo de consciência ambiental, mais participativa e comprometida.
Paraná lidera ações com plataforma inovadora
O estado do Paraná se destaca nacionalmente na construção de estratégias para conter o avanço de espécies exóticas. O Observatório Paranaense de Espécies Não-Nativas e/ou Invasoras, projeto desenvolvido dentro do NAPI, consolida uma base de dados robusta com informações espaciais e temporais sobre a ocorrência dessas espécies nos ecossistemas terrestre, aquático e marinho.
Essa plataforma permitirá que pesquisadores e órgãos ambientais tenham acesso a um ranking de vulnerabilidade por município, visualizando com precisão os locais com maior incidência de espécies invasoras. Segundo os dados mais recentes, 536 espécies exóticas já foram identificadas no estado, sendo 228 delas plantas terrestres, além de invertebrados marinhos, micro-organismos e vertebrados aquáticos.
O sistema ainda utiliza mapas por células de 100 km², com gradientes de cor que indicam a densidade de registros — do azul (baixa incidência) ao vermelho (alta incidência). A presença dessas informações possibilita decisões mais estratégicas no manejo ambiental e orienta a preservação em unidades de conservação vulneráveis.
Mais sobre o NAPI Biodiversidade
O projeto NAPI Biodiversidade reúne, em uma rede multidisciplinar, grupos de pesquisa e stakeholders do Paraná que atuam em áreas relacionadas à biodiversidade e serviços ecossistêmicos (além de parceiros de outros estados e do exterior), contando com o aporte da Fundação Araucária e da SETI (Secretaria da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior do Paraná). Saiba mais em: https://napibiodiversidade.eco.br/.



