O agronegócio brasileiro está cada vez mais no centro das discussões sobre o futuro climático do planeta. Com uma cadeia produtiva complexa, que vai da pequena propriedade familiar até grandes grupos exportadores, o setor rural assume papel fundamental na transição para uma economia de baixo carbono. Ciente desse desafio — e também das oportunidades que ele traz —, um novo documento apresentado pela Fundação Dom Cabral traça um plano abrangente para reposicionar o agro brasileiro no cenário climático internacional.
Fruto da colaboração entre mais de 60 organizações e elaborado com apoio do Instituto Clima e Sociedade, o estudo reúne um conjunto de recomendações direcionadas aos ministérios do Meio Ambiente e da Agricultura. O objetivo é claro: alinhar o setor às metas climáticas do país, fortalecendo, ao mesmo tempo, a competitividade no mercado global e a valorização dos ativos ambientais nacionais.
Estratégias para integrar o agro à nova economia do carbono
O estudo identifica cinco eixos centrais para orientar a implementação das Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) brasileiras, com destaque para a adoção de práticas agrícolas regenerativas, a mitigação de emissões de metano, a ampliação de linhas de financiamento verde e o estímulo à inovação por meio da pesquisa científica.
Entre os pontos mais enfáticos está a necessidade de capacitar os produtores para mensurar com precisão suas emissões e remoções de carbono. Isso não apenas contribui para o cumprimento de metas ambientais, como também abre portas para novas fontes de receita por meio do mercado de carbono. Afinal, mensurar é o primeiro passo para gerir — e gerir bem pode significar lucro, diferenciação e acesso a mercados mais exigentes.
Medidas para transformar o campo com base em ciência e incentivo
Ao sugerir uma abordagem chamada de “portfólio climático”, o documento reconhece a diversidade de realidades do agro brasileiro e propõe soluções adaptadas ao tipo de produção, bioma e contexto socioeconômico de cada região. Isso inclui desde linhas de crédito com juros mais atrativos até o aprimoramento de mecanismos de garantia e seguro rural — ferramentas essenciais para que o produtor invista em práticas mais sustentáveis sem correr riscos excessivos.
Outro ponto sensível abordado no documento é a necessidade de aprimorar marcos regulatórios, como a regularização fundiária, que ainda é entrave para milhares de produtores que desejam acessar crédito ou certificar suas áreas para gerar créditos de carbono. Ao mesmo tempo, o estudo recomenda que a agenda ambiental avance de forma integrada, com envolvimento do setor privado, academia, cooperativas e governo.
Valorização dos ativos ambientais brasileiros
A proposta da Fundação Dom Cabral aponta para um cenário no qual o Brasil pode assumir protagonismo global ao transformar seus ativos naturais em diferencial competitivo. Ao adotar práticas regenerativas, investir em tecnologia e integrar os produtores às políticas de mitigação, o país não apenas reduz passivos ambientais, mas também constrói uma narrativa sólida de compromisso climático junto ao mundo.
A transição do agro para uma economia verde já está em curso — e, com planejamento, incentivos corretos e métricas claras, ela pode ser também uma transição econômica. No fim das contas, o carbono pode deixar de ser apenas uma preocupação para se tornar uma moeda de valor para o produtor rural brasileiro.



