Resumo
- Pesquisa da CNI mostra que 57% dos empresários consideram a bioeconomia importante para o futuro da indústria brasileira.
- A maioria dos entrevistados (89%) apoia o uso econômico e responsável da biodiversidade, com foco na sustentabilidade.
- O Sudeste e o Sul concentram os empresários que mais valorizam o tema, evidenciando uma tendência regional.
- Investimentos em fontes renováveis, modernização de máquinas e redução de resíduos estão entre as principais prioridades.
- Falta de incentivos, custos altos e barreiras legais são os principais desafios enfrentados para ampliar ações sustentáveis.
A sustentabilidade deixou de ser apenas um discurso para se tornar parte estratégica das decisões empresariais. Uma pesquisa recente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), em parceria com o Instituto Nexus, indica que 57% dos empresários consideram a bioeconomia um tema essencial para o futuro da indústria brasileira.
Desse total, 20% afirmam que a questão é de “total importância” e outros 37% dizem “se importar muito” com o assunto — uma demonstração de que a preocupação ambiental vem se consolidando como um eixo de competitividade e inovação.
Sustentabilidade como eixo estratégico da indústria
Os dados revelam um movimento consistente no setor produtivo. Segundo o levantamento, 89% dos empresários apoiam a utilização econômica e responsável dos recursos naturais, reforçando que o desenvolvimento industrial pode — e deve — caminhar junto à conservação ambiental. Entre eles, 32% acreditam que a biodiversidade precisa ser conservada, garantindo seu uso sustentável; 29% defendem que ela deve integrar os negócios de forma consciente; e 28% associam a biodiversidade às políticas de responsabilidade socioambiental das empresas.
Por outro lado, apenas 5% dos entrevistados acreditam que a biodiversidade deva ser totalmente preservada, sem uso econômico-comercial, enquanto 3% ainda enxergam espaço para exploração sem preocupação sustentável — uma minoria diante da tendência de transição verde que avança no país.
Regionalização e percepção empresarial
A análise regional mostra nuances no comportamento dos empreendedores. As maiores concentrações de empresários que atribuem “total importância” à bioeconomia estão no Sudeste e no Sul, ambas com 22%, seguidas pelo Nordeste, com 20%.
Já nas regiões Norte e Centro-Oeste, apenas 8% declararam atribuir o mesmo grau de relevância. Esses números refletem a força da infraestrutura industrial e a presença de cadeias produtivas mais consolidadas nas regiões sulistas e sudestinas, que estão mais próximas dos polos de inovação tecnológica e de políticas ambientais estruturadas.
Indústria como protagonista da transformação verde
Para o presidente da CNI, Ricardo Alban, os dados confirmam uma virada de mentalidade no setor produtivo brasileiro. “A bioeconomia e o uso inteligente de nossa biodiversidade são grandes diferenciais no cenário global. Na COP30, vamos mostrar ao mundo que o Brasil tem as soluções para uma nova economia de baixo carbono, e a indústria é protagonista dessa transformação”, afirma.
Essa visão é reforçada pelo avanço das práticas ESG e pela pressão do mercado internacional por cadeias produtivas mais limpas. Segundo Alban, o setor industrial brasileiro está cada vez mais atento às oportunidades econômicas que emergem da transição para uma indústria verde, com foco em inovação e competitividade.
Investimentos e desafios ambientais
O estudo também revela as prioridades de investimento em sustentabilidade para os próximos anos. Um terço dos empresários (33%) pretende focar em fontes renováveis de energia, enquanto 28% priorizam a modernização de maquinários com foco em eficiência ambiental. Outros 23% miram reduzir a geração de resíduos sólidos, e 18% desejam otimizar o consumo energético.
Entretanto, a consolidação dessa agenda sustentável ainda enfrenta obstáculos. A falta de incentivos governamentais aparece como o principal entrave, citada por 42% dos empresários. Em seguida, 35% mencionam a ausência de uma cultura de sustentabilidade entre consumidores, e 29% apontam os custos adicionais como barreira relevante.
Barreiras jurídicas e o uso da biodiversidade
Outro ponto sensível é o arcabouço legal que regula o acesso aos recursos naturais. De acordo com o levantamento, 35% dos empresários consideram a ausência de leis claras sobre o uso da biodiversidade como a principal barreira. Já 33% destacam a falta de fiscalização adequada para coibir o uso ilegal de recursos genéticos e de conhecimentos tradicionais, enquanto outros 33% mencionam as dificuldades em estabelecer mecanismos justos de repartição de benefícios.
Esses desafios reforçam a necessidade de um marco regulatório mais moderno e seguro, capaz de dar suporte à inovação sem comprometer o patrimônio ambiental.
Competitividade e novas oportunidades
Quando questionados sobre o que mais incentiva o uso de fontes renováveis, 55% dos entrevistados destacaram o custo competitivo como principal fator, seguidos por incentivos fiscais (10%) e pela redução de emissões (8%). Na prática, as indústrias brasileiras já adotam em média seis ações sustentáveis em suas linhas de produção, como redução de resíduos sólidos (90%), otimização de energia (84%) e modernização de maquinários (78%).
Os números confirmam que a sustentabilidade deixou de ser apenas um diferencial e passou a ser parte da estratégia de sobrevivência e crescimento da indústria nacional — uma mudança de paradigma que coloca o Brasil em posição de destaque na corrida global por uma economia de baixo carbono.



