Resumo
• As exportações de milho do Paraná cresceram 179% em 2025, impulsionadas pela supersafra e pela estratégia dos produtores de priorizar o escoamento do cereal.
• A soja vive um ano de ajuste, mas derivados como farelo e óleo mantêm parte da receita do complexo, enquanto o milho sustenta o avanço dos embarques.
• O mel brasileiro enfrenta volatilidade após tarifa dos EUA, mas o Paraná quase dobrou sua receita graças à valorização do produto no mercado internacional.
• A mandioca avança com previsão de safra recorde em 2025, e as olerícolas reforçam a diversidade produtiva ao movimentar R$ 7,1 bilhões no estado.
• Proteínas animais e a cadeia de cogumelos mostram expansão e estabilidade, com custos menores no frango, recordes na suinocultura e avanço na produção de comestíveis.
O avanço das exportações de milho em 2025 não é apenas um dado econômico — é reflexo de uma mudança estrutural no ritmo e na lógica produtiva do campo paranaense. Em um ciclo marcado por supersafra, reorganização dos estoques e novas pressões do mercado internacional, o cereal assumiu o protagonismo histórico que antes pertencia majoritariamente à soja. Assim, os números ganham peso adicional: além de representarem uma resposta às condições climáticas e produtivas excepcionais, eles também revelam um setor capaz de se adaptar com rapidez às demandas globais.
Para a economista agrícola Helena Moreira, o crescimento expressivo mostra um setor que opera com precisão cirúrgica. “O milho abriu espaço porque os produtores entenderam que o mercado externo seria mais responsivo ao cereal neste momento. Foi uma leitura estratégica, sustentada por uma safra volumosa e pela necessidade de liberar armazenagem antes do próximo ciclo”, afirma.
Nessa mesma linha, o analista de cadeias agroindustriais Rafael Dornelles destaca que o salto nas exportações evidencia um realinhamento temporário das prioridades. “Ao antecipar o escoamento do milho, o Paraná equilibrou oferta interna, liberou silos e respondeu rapidamente ao apetite global. É um movimento que reforça a maturidade do agronegócio local”, observa.
Milho dispara: embarques crescem 179% e receitas quase triplicam
O milho assumiu a liderança absoluta nas exportações do Paraná entre janeiro e outubro de 2025. O estado enviou ao mercado internacional 3,55 milhões de toneladas, contra 1,27 milhão no mesmo período de 2024 — um avanço de 179%.
Esse salto também se refletiu na receita:
o valor acumulado chegou a US$ 757,7 milhões, quase três vezes mais do que os US$ 268,2 milhões do ano anterior. Apesar de o preço internacional ter oscilado apenas marginalmente — de US$ 210,58 para US$ 213,43 por tonelada —, o volume excepcional foi o principal motor da expansão.
O Boletim Conjuntural do Departamento de Economia Rural (Deral) destaca que esse desempenho está diretamente ligado à safra recorde do ciclo anterior, que gerou excedentes inéditos. Além disso, muitos produtores optaram por vender o milho antes da soja, já que o cereal tem menor rentabilidade e costuma ocupar prioridade nas liberações de armazenagem.
Soja desacelera, mas derivados sustentam parte da receita
Enquanto o milho impulsiona os números do estado, a soja atravessa um ano de ajuste. Os embarques totais do complexo (grão, óleo e farelo) caíram 10%, somando 13,56 milhões de toneladas nos primeiros meses de 2025 e gerando US$ 5,53 bilhões.
Entretanto, a retração não ocorreu de forma homogênea:
– a soja em grão caiu 15%;
– o farelo avançou 2%;
– o óleo de soja, com maior valor agregado, cresceu 18%.
Somados, milho e soja totalizaram 17,1 milhões de toneladas exportadas, uma alta de 4,1% que reforça o impacto da priorização do milho nos primeiros embarques do ano. A expectativa é que, nos próximos meses, a soja retome ritmo acelerado para liberar armazéns antes do início da colheita de janeiro.
Mel: valorização em meio à tarifa dos EUA e volatilidade internacional
O mercado de mel ilustra a sensibilidade das cadeias agrícolas às decisões tarifárias globais. Apesar de o Brasil ter registrado aumento de 1,5% no volume e 31,2% na receita até outubro, o cenário foi marcado por instabilidades após os Estados Unidos imporem tarifa de 50% sobre o produto.
O Paraná manteve o terceiro lugar no ranking nacional, com 5,57 mil toneladas exportadas e US$ 18,6 milhões arrecadados — quase o dobro da receita do ano anterior. A antecipação de compras pelos EUA, seguida de forte queda a partir de agosto, evidenciou os ajustes imediatos do mercado; ainda assim, a valorização do mel brasileiro amenizou parte das perdas.
Além dos EUA, o produto paranaense mantém forte presença em países como Canadá, Reino Unido, Alemanha e Países Baixos.
Mandioca: lavouras aceleram e produção caminha para novo recorde
A mandioca segue trajetória positiva em 2025. As chuvas de novembro impulsionaram o desenvolvimento das áreas de cultivo e aceleraram o arranquio, reduzindo atrasos provocados pelo período mais seco entre agosto e outubro. O Deral estima que a produção alcance 4,2 milhões de toneladas, acima das 3,7 milhões do último ano.
Os preços pagos ao produtor — cerca de R$ 543,57 por tonelada em outubro — garantem cobertura dos custos e estimulam expansão de áreas para 2026.
Olerícolas: diversidade produtiva reforça a força dos municípios
As olerícolas mantêm uma das características mais marcantes da agricultura paranaense: a distribuição territorial ampla, com cultivo comercial em todos os 399 municípios. Em 2024, o segmento movimentou R$ 7,1 bilhões em Valor Bruto da Produção (VBP).
Cinco municípios lideram o setor — São José dos Pinhais, Guarapuava, Marilândia do Sul, Contenda e Araucária — respondendo por 805,6 mil toneladas e R$ 1,8 bilhão. Batata, cebola, couve-flor e repolho são os principais destaques, acompanhados por uma ampla variedade de folhosas destinadas aos centros urbanos.
Proteínas animais: ajustes de custo e avanços no mercado externo
Frango
O custo de produção registrou alívio, caindo para R$ 4,55/kg em outubro — uma redução de 1,7% no mês e 2,8% frente a 2024 — impulsionada pela baixa na ração, que representa 63% da despesa total. O indicador acumula retração de 4,9% no ano, o que ajuda a equilibrar a atividade em meio às oscilações do preço pago ao produtor.
Bovinos
As exportações brasileiras de carne bovina já atingiram 96% do total embarcado em 2024, mantendo oferta interna ajustada e preços firmes. O envio de animais vivos aumentou para 842 mil toneladas, alta de 12,4% em relação ao ano anterior.
Suínos
A suinocultura vive um dos momentos mais fortes da década. No terceiro trimestre, o país registrou recordes simultâneos: produção de 1,49 milhão de toneladas, exportações de 391,97 mil toneladas (26,3% da produção nacional) e disponibilidade interna ampliada.
Cogumelos: expansão da produção e maior presença de mercados especializados
O Paraná segue como terceiro maior produtor nacional, com 982 mil quilos em 2024 e VBP superior a R$ 21 milhões. As variedades mais cultivadas são Champignon de Paris, Shiitake e Shimeji, impulsionadas pela demanda crescente por gastronomia oriental e proteínas alternativas.
Os polos produtores concentram-se nas regiões de Curitiba, Guarapuava, Irati, Ponta Grossa, Londrina, União da Vitória, Umuarama, Dois Vizinhos, Cornélio Procópio e Maringá. O estado também cultiva o Agaricus blazei, conhecido como “cogumelo-do-sol”, espécie apreciada mundialmente por propriedades culinárias e medicinais.



