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Pecuaria

Cadeia leiteira adota protocolos de baixo carbono para enfrentar as mudanças climáticas

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Cadeia leiteira adota protocolos de baixo carbono para enfrentar as mudanças climáticas

A produção de leite no Brasil vive um momento de transição silenciosa, porém decisiva. Pressionada por metas ambientais, exigências de mercado e pela necessidade de garantir segurança alimentar no longo prazo, a atividade passa a incorporar práticas que unem produtividade e responsabilidade climática. Nesse contexto, protocolos técnicos voltados à redução das emissões de gases de efeito estufa e ao aumento do sequestro de carbono surgem como instrumentos estratégicos para transformar a rotina das propriedades leiteiras sem romper com sua viabilidade econômica.

Desenvolvidos a partir de anos de pesquisa aplicada, os novos protocolos sistematizam práticas capazes de atuar diretamente nos principais pontos de emissão da pecuária leiteira. Eles incidem sobre processos como a fermentação entérica dos bovinos, o uso de fertilizantes nitrogenados e o manejo do solo, reconhecidos como fontes relevantes de metano, óxido nitroso e dióxido de carbono. A iniciativa se consolida como uma contribuição concreta para a descarbonização da cadeia produtiva, alinhando o setor às diretrizes internacionais de combate às mudanças climáticas.

Protocolos ambientais e o papel da pesquisa pública

Os documentos integram uma publicação técnica da Embrapa e foram estruturados com foco na aplicação prática em sistemas de produção de leite. Além de orientar produtores e técnicos, os protocolos dialogam diretamente com os compromissos assumidos pelo Brasil no âmbito dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, especialmente aqueles relacionados à ação climática.

O ponto de partida para a construção dessas diretrizes é o reconhecimento de que a atividade leiteira enfrenta desafios adicionais quando comparada a outros segmentos da pecuária. A redução de emissões passa a ser mais um critério de decisão dentro da porteira, somando-se a fatores como produtividade, sanidade, custos e adaptação às demandas de consumidores cada vez mais atentos à origem dos alimentos.

Metano: eficiência produtiva como estratégia de mitigação

Entre os gases de efeito estufa associados à pecuária, o metano ocupa posição central. Embora faça parte do processo digestivo natural dos ruminantes, sua liberação pode ser significativamente reduzida quando os sistemas produtivos operam de forma mais eficiente. Na produção de leite, isso significa maximizar a relação entre o volume produzido e o número de animais mantidos no rebanho.

A lógica é simples, mas exige precisão técnica. Animais saudáveis, com bom desempenho reprodutivo e nutricional, diluem as emissões ao longo de uma maior produção de leite. Já sistemas com baixos índices zootécnicos acabam elevando a quantidade de metano emitida por litro produzido, especialmente quando vacas permanecem fora da lactação ou enfrentam problemas sanitários recorrentes.

Estudos conduzidos no âmbito dos protocolos demonstram que ajustes em intervalos entre partos, idade ao primeiro parto e duração da lactação têm impacto direto sobre as emissões. Simulações indicam que sistemas menos eficientes podem elevar em mais de 20% a emissão de gases por quilo de leite corrigido, reforçando a importância de decisões técnicas bem fundamentadas.

Solo, fertilizantes e o controle de emissões invisíveis

Outro eixo central dos protocolos aborda a emissão de óxido nitroso e amônia, gases menos perceptíveis no cotidiano da fazenda, mas altamente relevantes do ponto de vista climático e econômico. O óxido nitroso, por exemplo, possui potencial de aquecimento global dezenas de vezes superior ao do dióxido de carbono e está diretamente associado ao uso inadequado de fertilizantes nitrogenados.

As boas práticas propostas enfatizam o uso racional desses insumos, a adoção de leguminosas consorciadas com gramíneas e a melhoria da distribuição de dejetos animais nas áreas de pastejo. Essas estratégias reduzem perdas, aumentam a eficiência agronômica e diminuem a necessidade de fertilizantes sintéticos, cujo processo de fabricação também gera emissões significativas.

Além disso, técnicas como o parcelamento da adubação, a incorporação da ureia ao solo e o uso de fertilizantes de eficiência aumentada contribuem para reduzir a volatilização de amônia. O resultado aparece tanto na mitigação climática quanto na redução de custos, criando um cenário em que sustentabilidade e rentabilidade caminham juntas.

Manejo do solo e o potencial do sequestro de carbono

Se por um lado a pecuária é frequentemente associada às emissões, por outro, os sistemas bem manejados oferecem uma oportunidade relevante de mitigação por meio do sequestro de carbono no solo. Pastagens tropicais, quando corretamente conduzidas, apresentam alto potencial de incorporação de carbono em profundidade, transformando o solo em um importante reservatório desse elemento.

Práticas conservacionistas como plantio direto, adubação verde, recuperação de pastagens degradadas e integração entre lavoura, pecuária e floresta estão entre as estratégias destacadas. Em sistemas integrados com árvores, por exemplo, o crescimento florestal pode compensar parte das emissões associadas aos animais, criando um balanço mais favorável de carbono ao longo do tempo.

Além do benefício climático, o manejo adequado do solo reflete diretamente na saúde do rebanho. Animais criados em ambientes mais equilibrados tendem a apresentar menor estresse, menor incidência de doenças e melhor desempenho produtivo, reforçando a ideia de que sustentabilidade também é uma ferramenta de gestão.

Desafios econômicos e caminhos para a adoção

Apesar dos benefícios técnicos e ambientais, a ampliação dessas práticas enfrenta um obstáculo recorrente: o investimento inicial. A transição para sistemas mais eficientes exige acesso a tecnologias, planejamento e, muitas vezes, capital, o que nem sempre está disponível para o produtor no curto prazo. No entanto, a experiência acumulada indica que os ganhos subsequentes em produtividade e eficiência tendem a compensar esse esforço inicial.

Nesse cenário, políticas públicas voltadas à agricultura de baixo carbono, como programas de incentivo e crédito orientado, desempenham papel fundamental. Da mesma forma, arranjos locais envolvendo cooperativas, associações e a indústria de laticínios podem acelerar a adoção dos protocolos, distribuindo riscos e ampliando o alcance das boas práticas.

Ao transformar recomendações científicas em diretrizes aplicáveis, os novos protocolos sinalizam que a produção de leite pode, sim, avançar na agenda climática sem abrir mão de sua relevância econômica. Mais do que um conjunto de normas, eles representam um convite à modernização sustentável da pecuária brasileira.


*Com informações da Embrapa

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    Sou Cláudio P. Filla, formado em Comunicação Social e Mídias Sociais. Atuo como Redator e Curador de Conteúdo do Agronamidia. Com o apoio de uma equipe editorial de especialistas em agronomia, agronegócio, veterinária, desenvolvimento rural, jardinagem e paisagismo, me dedico a garantir a precisão e a relevância de todas as publicações.

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