No silêncio das lavouras e sob o voo discreto das abelhas, esconde-se um dos motores mais poderosos da produtividade agrícola. A natureza trabalha em silêncio, mas os números gritam: em 2023, a polinização realizada por animais foi responsável por 12,6% do valor total da produção agrícola do Paraná, de acordo com estudo do IBGE. O dado impressiona não só pelo volume, mas pela constância do crescimento — acima, inclusive, da média nacional.
Entre flores e frutos, a transferência de pólen entre plantas promovida por abelhas, aves e até morcegos tem garantido não apenas produtividade, mas também qualidade e segurança alimentar. Segundo o levantamento, o Estado teve um acréscimo médio de 0,33 ponto percentual no impacto da polinização sobre sua agricultura nos últimos cinco anos — superando o avanço nacional de 0,27 ponto percentual. Essa diferença revela o quanto o Paraná vem se destacando na valorização dos serviços ecológicos prestados pelos polinizadores.
A força invisível que garante frutos, sementes e colheitas saudáveis
A polinização animal vai além da beleza natural do processo: ela é essencial para a formação de frutos e sementes, especialmente nas culturas dependentes de agentes vivos. Embora o vento e a água também possam colaborar nesse processo, são os seres alados que mais contribuem para garantir colheitas cheias, vagens com mais grãos e frutas com qualidade superior. Estima-se que 75% das culturas brasileiras dependam diretamente da polinização animal.
No Paraná, essa dependência já é notável em 300 municípios — um salto de 6% em relação a 2018. Cidades como Rio Branco do Sul, onde mais de 40% da produção agrícola depende dos polinizadores, figuram entre os destaques, ao lado de Doutor Ulysses, Cerro Azul e Morretes, todos com índices acima de 30%. Essa realidade evidencia a importância ecológica e econômica dos polinizadores nas mais diversas regiões do Estado.
Abelhas na lavoura: produtividade e renda com mais sabor e cor
Na prática, os resultados aparecem na ponta da enxada e nos números da balança comercial. Produtores de soja paranaenses, amparados por estudos da Embrapa, relatam aumento de até 13% na produtividade quando as lavouras são frequentadas por abelhas. As vagens, antes com dois ou três grãos, passam a conter quatro ou até cinco — um impacto direto, natural e gratuito.
Mas os benefícios não param na produção. O Paraná também tem investido na integração entre agricultura e apicultura, incentivando que produtores cultivem abelhas em suas propriedades. A colheita, nesse caso, é dupla: além dos ganhos nas lavouras, surge uma nova fonte de renda com a venda de mel, especialmente valorizado quando a colmeia é bem manejada. O mel claro, de difícil cristalização, pode atingir até 50 quilos por ano por colmeia — um ativo cada vez mais apreciado pela indústria alimentícia.
Poliniza Paraná: uma colmeia por vez, um ecossistema preservado
Para proteger essa engrenagem vital da agricultura, o Estado implementou o projeto Poliniza Paraná, uma iniciativa da Secretaria do Desenvolvimento Sustentável. Desde 2022, foram instalados 205 meliponários em 29 municípios, todos com abelhas nativas sem ferrão. O objetivo é simples e poderoso: reconectar as cidades com a biodiversidade, promover a educação ambiental e assegurar a presença dos polinizadores em áreas urbanas.