A imagem de um pasto tradicional, com poucas árvores e grandes áreas expostas ao sol, vem mudando em muitas propriedades rurais brasileiras. Cada vez mais, produtores estão adotando o sistema silvipastoril, um modelo de integração que combina o cultivo de árvores com a criação de animais e o manejo de pastagens. Além de melhorar a qualidade do solo e do microclima, essa prática agrega valor à produção e contribui para a sustentabilidade ambiental.
Segundo o engenheiro florestal Carlos Mendes, consultor especializado em sistemas integrados, a diversificação de uso da terra é um dos maiores atrativos para os pecuaristas. “A combinação de espécies arbóreas com o pasto garante sombra e conforto térmico ao gado, reduz a perda de peso nos períodos quentes e ainda gera renda extra com a venda de madeira, frutos ou outros produtos florestais”, explica. Esse equilíbrio cria um ambiente mais resiliente, onde o solo mantém sua fertilidade por mais tempo e a vegetação se regenera de forma natural.
Benefícios para o solo e a pastagem
No sistema silvipastoril, as árvores desempenham papel fundamental na proteção do solo. Suas raízes auxiliam na retenção de nutrientes, evitam a erosão e contribuem para a infiltração da água da chuva. O sombreamento natural também controla a temperatura do solo e reduz a evaporação, preservando a umidade mesmo em períodos de estiagem. Além disso, o acúmulo de matéria orgânica proveniente das folhas acelera a ciclagem de nutrientes, beneficiando diretamente as pastagens.
O zootecnista Marcos Pereira, pesquisador em manejo de pastagens, destaca que a melhoria das condições ambientais impacta diretamente a produtividade. “Animais em áreas sombreadas gastam menos energia para manter a temperatura corporal, o que se traduz em melhor ganho de peso e eficiência alimentar. É um ganho de bem-estar animal que reflete na produção”, afirma. Ele acrescenta que a diversidade vegetal contribui para o controle natural de pragas e doenças, reduzindo a dependência de insumos químicos.
Integração com a agrofloresta
O sistema silvipastoril pode ser uma etapa ou até mesmo parte permanente de projetos de agrofloresta, nos quais culturas agrícolas, árvores e pastagens convivem de forma planejada. Essa integração favorece o uso eficiente dos recursos naturais, promove maior biodiversidade e amplia as fontes de renda da propriedade. Em regiões tropicais, como grande parte do Brasil, a estratégia também ajuda a enfrentar desafios climáticos, como ondas de calor e chuvas irregulares.

Além do ganho econômico, há uma contribuição ambiental relevante: a presença de árvores na pecuária atua como um sumidouro de carbono, ajudando a mitigar emissões de gases de efeito estufa. “Cada árvore no pasto funciona como um investimento a longo prazo, tanto na preservação ambiental quanto na valorização da propriedade”, reforça Carlos Mendes.
Implantação e manejo
Para adotar o sistema silvipastoril, é preciso planejamento, considerando o espaçamento entre as árvores, as espécies mais adequadas ao clima e ao tipo de solo, e a compatibilidade com a criação animal. Árvores de rápido crescimento e que ofereçam produtos comercializáveis são escolhas comuns, mas também é importante diversificar para garantir equilíbrio ecológico. O manejo das podas, a rotação das áreas de pastejo e a adubação orgânica são práticas essenciais para manter o sistema produtivo e saudável.
Quando bem implantado, o silvipastoril se torna um modelo de produção que alia pecuária de qualidade, conservação ambiental e rentabilidade, sendo uma alternativa viável para propriedades de diferentes portes e regiões. Por isso, cada vez mais, produtores e técnicos apontam esse sistema como um caminho estratégico para o futuro da pecuária brasileira.