À primeira vista, manchas amareladas na parte superior das folhas podem parecer apenas um sinal de estresse da planta. No entanto, para quem cultiva café, esse pode ser o primeiro alerta da presença de uma das pragas mais temidas das lavouras brasileiras: o bicho-mineiro (Leucoptera coffeella). Pequeno, discreto e de hábitos noturnos, esse inseto desafia a sanidade dos cafezais e compromete não apenas o visual das plantas, mas a produtividade e a qualidade da bebida na xícara.
O impacto da praga pode ser devastador quando não é controlada a tempo. As larvas se instalam no interior das folhas, cavando galerias que, além de interromperem a fotossíntese, levam ao desfolhamento precoce da planta. Com isso, o cafeeiro enfraquece, os grãos amadurecem de forma irregular e a produção final é severamente prejudicada. Em regiões quentes e secas, como explica o engenheiro agrônomo Carlos Rezende, o ciclo do inseto se acelera, o que torna ainda mais urgente o monitoramento e o controle técnico da infestação.
Como identificar a presença do bicho-mineiro no cafeeiro
O nome popular do inseto já revela seu comportamento: as larvas “mineram” o interior das folhas, deixando trilhas amareladas que depois tornam-se manchas secas. De acordo com Rezende, o ideal é que o produtor acompanhe semanalmente os talhões mais sensíveis da lavoura, especialmente durante os meses de clima mais seco. “As primeiras lesões aparecem na face superior das folhas, e, quando viradas, é possível ver o casulo do inseto na parte inferior. Essa fase é crítica porque indica que a larva já está em estágio avançado de desenvolvimento”, observa.

Outro sinal evidente é o aumento do número de folhas caídas no chão. Como o inseto compromete a estrutura foliar, a planta reage descartando essas folhas, o que reduz drasticamente sua capacidade fotossintética. Isso compromete não só o vigor imediato do cafeeiro, mas também sua preparação para a próxima florada.
Estratégias de controle: quando o manejo biológico ganha força
Diante da crescente preocupação com o uso excessivo de defensivos químicos, o controle biológico vem ganhando protagonismo entre os cafeicultores. Além de preservar a fauna benéfica e reduzir resíduos nos grãos, essa abordagem tem se mostrado eficiente contra o bicho-mineiro quando bem conduzida. A introdução de inimigos naturais, como a vespinha Closterocerus coffeellae, tem sido uma das alternativas com bons resultados em regiões produtoras.

Para a engenheira agrônoma e pesquisadora Mariana Tavares, o segredo está na integração entre estratégias, combinando controle biológico com armadilhas adesivas, manejo cultural e pulverizações pontuais, sempre baseadas em monitoramento técnico. “O uso preventivo de parasitoides pode manter a população do bicho-mineiro em níveis que não causam dano econômico. Mas isso só funciona se o agricultor observar com atenção os picos de infestação e agir no tempo certo”, destaca.
Além disso, a escolha do momento certo para a poda, o controle do mato e a nutrição equilibrada da lavoura ajudam a fortalecer o cafeeiro, tornando-o mais resistente ao ataque de pragas. O monitoramento com armadilhas luminosas e a análise dos ciclos populacionais do inseto também contribuem para uma gestão mais eficiente e ambientalmente segura.