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Bioenergia em terras cansadas: como cana, milho e soja podem triplicar a produção brasileira

Estudo do LNBR mostra que recuperar apenas parte dos pastos degradados já seria suficiente para elevar em três vezes a oferta de bioenergia, fixar carbono no solo e colocar o Brasil no centro da transição energética discutida na COP30

by Claudio P. Filla
21 de novembro de 2025
in Agro
Bioenergia em terras cansadas: como cana, milho e soja podem triplicar a produção brasileira

Transformar um passivo ambiental em motor da transição energética é, hoje, uma das maiores oportunidades do Brasil. Em vez de abrir novas frentes de desmatamento, o país poderia mirar para dentro, olhar com atenção os milhões de hectares de pastos degradados e, a partir deles, construir uma nova fase da bioeconomia. É exatamente isso que mostra um estudo conduzido pelo Laboratório Nacional de Biorrenováveis (LNBR), do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), em Campinas. Segundo os pesquisadores, recuperar uma fração dessas terras cansadas com o plantio de cana, milho e soja voltados à bioenergia seria suficiente para triplicar a produção nacional e gerar um impacto global nas metas debatidas na COP30, em Belém.

Ao apresentar os resultados em uma mesa-redonda sobre bioeconomia e neoindustrialização, realizada na Casa da Ciência, no Museu Emilio Goeldi, o diretor do LNBR, Mário Murakami, sintetizou o potencial brasileiro em uma frase que ajuda a dimensionar o cenário: o país poderia contribuir de forma decisiva para a quadruplicação da produção mundial de biocombustíveis até 2035 apenas reorganizando o uso do seu próprio território degradado, sem avançar sobre florestas ou áreas sensíveis.

O mapa das terras degradadas e o potencial energético oculto

O ponto de partida do estudo foi quantificar com precisão o tamanho do problema – e da oportunidade. O Brasil possui cerca de 100 milhões de hectares de pastos degradados, uma área equivalente a quatro vezes o território do Estado de São Paulo. São regiões que perderam produtividade, apresentam solo empobrecido e já não cumprem, do ponto de vista agropecuário, o papel que um dia tiveram.

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Para chegar a esse número, a equipe utilizou imagens de satélite de alta resolução e uma série de critérios de exclusão. As áreas delimitadas não podiam estar em regiões de preservação ecológica, próximas a remanescentes de floresta nativa, nascentes ou zonas de transição sensíveis, como o encontro entre Cerrado e Amazônia. “Fomos bastante restritivos para garantir que essas áreas realmente não vão afetar o sistema hídrico, a disponibilidade de água e, muito menos, mata nativa, respeitando toda a legislação ambiental vigente”, explica Murakami.

A partir desse conjunto de 100 milhões de hectares, os pesquisadores afunilaram ainda mais o recorte. Cerca de 36 milhões de hectares se mostraram adequados para a expansão de culturas energéticas, como cana-de-açúcar, milho e soja, direcionadas especificamente à produção de biocombustíveis e bioenergia. Os 64 milhões de hectares restantes permanecem como reserva estratégica, seja para recuperação florestal, seja para outros usos de restauração ecológica.

Ao simular o uso desses 36 milhões de hectares apenas com culturas energéticas, o estudo chegou a um número expressivo: seria possível alcançar 6,8 exajoules (EJ) de energia por ano, volume equivalente à atual produção mundial de energia renovável. Isso significa que, somente com a recuperação inteligente de terras degradadas, o Brasil poderia, na prática, igualar a oferta global de energia renovável hoje existente.

Triplicar a bioenergia sem derrubar florestas

A expansão da bioenergia costuma ser associada à abertura de novas áreas agrícolas, o que levanta preocupações legítimas sobre desmatamento e perda de biodiversidade. Neste trabalho, porém, a lógica é inversa. Em vez de avançar sobre florestas, a proposta é recuperar áreas já degradadas, aumentando a produtividade do solo e promovendo, ao mesmo tempo, sequestro de carbono.

A área cultivada com cana-de-açúcar no Brasil hoje gira em torno de 9 milhões de hectares. Ao somar essa base já consolidada com a possibilidade de plantio de cana, milho e soja nos 36 milhões de hectares de pastos degradados mapeados, o país teria condições de triplicar sua produção de bioenergia. “O Brasil tem o potencial de triplicar sua produção de bioenergia usando somente uma pequena parcela das terras degradadas e mantendo mais da metade para o reflorestamento”, destaca Murakami.

O impacto ambiental, segundo o pesquisador, tende a ser neutro ou até positivo. Isso porque o manejo adequado dessas culturas energéticas em solos degradados favorece o acúmulo de matéria orgânica e a fixação de carbono, revertendo parte dos danos causados por décadas de uso inadequado. Além disso, a conversão de áreas empobrecidas em sistemas agrícolas mais eficientes reduz a pressão por abertura de novas áreas em biomas sensíveis, como Amazônia e Cerrado, o que é crucial em um cenário em que o país se comprometeu internacionalmente com metas de redução de desmatamento e emissões.

Logística, vocação regional e integração com cadeias produtivas

Mais do que identificar onde estão as terras degradadas, o estudo se preocupou em entender como integrá-las de forma eficiente às cadeias produtivas de bioenergia já existentes. Em um país continental, a vocação regional e a infraestrutura disponível são determinantes para o sucesso de qualquer estratégia em larga escala.

“Talvez em uma determinada região faça mais sentido cultivar milho e soja e, em outra, cana-de-açúcar. Isso tudo foi muito bem mapeado no trabalho com o intuito de indicar, especificamente, qual cultura se encaixa melhor em cada região do país, uma vez que cada uma tem suas especificidades de restrições, oportunidades e vantagens”, explica Murakami.

Assim, áreas próximas a polos sucroenergéticos tendem a se beneficiar da expansão da cana, aproveitando usinas já instaladas, redes de escoamento, conhecimento técnico e mão de obra qualificada. Em outras regiões, a integração com cadeias de milho e soja para etanol de segunda geração, biogás ou produção de óleo voltado a combustíveis sustentáveis pode ser mais interessante.

Essa visão territorializada evita soluções genéricas e reforça a ideia de uma bioeconomia ancorada em arranjos produtivos regionais, que geram emprego, renda e inovação local, ao mesmo tempo em que contribuem para metas globais de descarbonização.

A vantagem estrutural do Brasil na bioeconomia global

Quando se fala em bioenergia e bioeconomia, o Brasil parte de uma posição singular. A matriz elétrica do país é predominantemente renovável, com mais de 90% da energia elétrica gerada a partir de fontes como hidrelétricas, eólicas, solares e biomassa. Isso cria uma vantagem que poucos países conseguem replicar.

A disponibilidade de energia elétrica renovável em grande escala permite ao Brasil produzir hidrogênio de baixo carbono sem depender de despacho fóssil adicional. Esse hidrogênio é um insumo fundamental para a produção de combustíveis sustentáveis de aviação (SAF), que surgem como alternativa ao querosene tradicional, derivado do petróleo. “O Brasil é o único país que consegue produzir hidrogênio de baixo carbono sem despacho fóssil, porque usa energia renovável para isso. O mundo inteiro vai depender de despacho fóssil adicional para produzir hidrogênio, que é um insumo central para produzir SAF”, compara Murakami.

Além da energia limpa, outro trunfo brasileiro é a disponibilidade de biomassa lignocelulósica. O país gera mais de meio bilhão de toneladas desse tipo de biomassa por ano, resultante principalmente de resíduos agrícolas e florestais que não competem com a produção de alimentos. Desse total, cerca de 200 milhões de toneladas já se encontram concentradas na indústria, prontas para serem biotransformadas.

“Nenhum lugar no mundo tem essa biomassa cativa. Os Estados Unidos produzem muita biomassa, só que ela está disponível no solo das fazendas. No Brasil, essa biomassa já está na indústria, é limpa, abundante e de baixo custo. Isso permite reduzir em duas a três vezes o custo do produto final”, observa o diretor do LNBR.

Essa combinação de matriz elétrica renovável, biomassa abundante e cadeia produtiva de bioenergia consolidada, especialmente em torno da cana-de-açúcar, posiciona o país como um concorrente praticamente imbatível no cenário da bioeconomia global.

Tecnologia, soberania e o desafio da celulose recalcitrante

Entretanto, para transformar todo esse potencial em produtos competitivos e escaláveis, é preciso enfrentar um obstáculo técnico importante: a complexidade da biomassa lignocelulósica. A celulose, principal polímero presente nesses materiais, é altamente recalcitrante à despolimerização biológica. Em outras palavras, quebrá-la em açúcares fermentescíveis de forma eficiente e barata não é uma tarefa trivial.

Boa parte das tecnologias industriais disponíveis para esse processo ainda é importada, o que cria uma dependência tecnológica e encarece a produção. Por isso, uma das missões centrais do LNBR é codesenvolver soluções com a indústria nacional, compartilhando riscos e construindo rotas tecnológicas que garantam soberania e competitividade ao Brasil. “Nosso papel não é competir com as indústrias, mas dar opções de escolha de tecnologias nacionais ou importadas para elas”, afirma Murakami.

Ao reduzir a dependência de biocatalisadores e processos estrangeiros, o país fortalece sua posição na cadeia de valor, retém uma parte maior dos benefícios econômicos e passa a ditar, e não apenas seguir, o ritmo das inovações em bioenergia.

Biodiversidade como laboratório vivo de inovação

Se o desafio tecnológico é grande, a resposta, em boa medida, vem da própria natureza. A biodiversidade brasileira funciona como um vasto laboratório vivo, onde microrganismos desenvolveram, ao longo de milhões de anos, estratégias sofisticadas para degradar biomassa em ambientes extremos.

Em trabalhos de bioprospecção conduzidos pelo LNBR, pesquisadores analisaram amostras de solo recoberto por bagaço de cana-de-açúcar e identificaram um novo filo bacteriano com potencial para mudar a forma como a ciência compreende o metabolismo da celulose. A partir dessa descoberta, foi possível isolar uma enzima com desempenho excepcional na conversão de biomassa.

Por meio de experimentos realizados em uma das linhas de feixe do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron, do CNPEM, os cientistas elucidaram o mecanismo de ação dessa enzima em detalhes, observando sua estrutura e funcionamento na escala atômica. Com esse conhecimento, a proteína foi aplicada em escala industrial, em reatores de 300 litros, demonstrando ganhos concretos em eficiência.

“Conseguimos mostrar que essa enzima representa uma das maiores revoluções nos últimos 20 anos em termos de aplicação industrial, em comparação com outras descobertas de biocatalisadores, e que ela possibilita um ganho de mais de 20% na conversão de biomassa”, destaca Murakami.

Esse avanço não permanece restrito ao laboratório. O resultado foi incorporado a uma plataforma de produção de coquetel enzimático mantida pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, ficando disponível para a comunidade científica e para empresas interessadas em codesenvolver e aprimorar a tecnologia. Assim, a biodiversidade brasileira deixa de ser apenas patrimônio natural e passa a ser, de forma muito concreta, ativo tecnológico estratégico.

Ao conectar terras degradadas, cadeias produtivas estabelecidas, matriz energética limpa e inovação baseada na biodiversidade, o Brasil mostra que a transição para uma economia de baixo carbono não precisa ser abstrata. Ela pode começar exatamente onde o solo está mais cansado – e, justamente por isso, mais pronto para renascer como fonte de bioenergia e desenvolvimento.

  • Claudio P. Filla

    Sou Cláudio P. Filla, formado em Comunicação Social e Mídias Sociais. Atuo como Redator e Curador de Conteúdo do Agronamidia. Com o apoio de uma equipe editorial de especialistas em agronomia, agronegócio, veterinária, desenvolvimento rural, jardinagem e paisagismo, me dedico a garantir a precisão e a relevância de todas as publicações.

    E-mail: [email protected]

Via: Elton Alisson, de Belém | Agência FAPESP

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