A produção de soja brasileira, líder mundial em volume e exportação, está prestes a dar um salto tecnológico sem precedentes no enfrentamento de dois inimigos silenciosos que comprometem lavouras inteiras: o nematoide das lesões radiculares (Pratylenchus brachyurus) e o nematoide de cisto da soja (Heterodera glycines). Um novo acordo firmado entre três gigantes do setor — Basf, Corteva Agriscience e M.S. Technologies — abre caminho para a primeira biotecnologia combinada com resistência comprovada contra essas pragas, algo até então inédito no mercado.
Segundo os dados apresentados pelas empresas, o novo trait (característica genética introduzida via engenharia transgênica) foi desenvolvido ao longo de sete anos e já testado em mais de 160 áreas experimentais. Os números impressionam: o nível de controle sobre o nematoide das lesões radiculares ultrapassa 90%, o que indica um enorme potencial de estabilização da produtividade em regiões infestadas, onde as perdas hoje ainda são expressivas.
Tecnologia com pacote completo: menos perdas e mais flexibilidade
Batizada como NRS (Nematode Resistant Soybeans), a tecnologia será incorporada em sistemas já conhecidos por tolerarem múltiplos herbicidas, como 2,4-D sal colina, glifosato e glufosinato de amônio. Além disso, incluirá proteínas Bt voltadas ao controle de lagartas, fortalecendo ainda mais o pacote de proteção integrada contra as principais ameaças à soja.
A junção dessas características representa mais do que uma inovação genética. Trata-se de uma ferramenta estratégica para o agricultor moderno, que precisa conciliar sustentabilidade, controle eficaz de pragas e resistência a pressões químicas cada vez mais desafiadoras. Ao reduzir a necessidade de aplicações frequentes de nematicidas, a nova soja transgênica também colabora com a racionalização dos custos de produção e minimiza impactos ambientais, algo cada vez mais valorizado dentro e fora do país.
Pragas microscópicas, prejuízos gigantes
Os nematoides são parasitas invisíveis a olho nu, mas devastadores para o sistema radicular da soja. Atuam de forma silenciosa e progressiva, comprometendo o vigor das plantas e a absorção de água e nutrientes, o que resulta em áreas manchadas no campo e baixa produtividade. Estima-se que essas pragas, sozinhas, causem prejuízos anuais bilionários no Brasil, mesmo com o uso de práticas de manejo como a rotação de culturas e a aplicação de defensivos químicos.
O problema é que, embora essas estratégias ajudem a mitigar o avanço das infestações, nem sempre oferecem controle efetivo. Além disso, o uso prolongado de produtos químicos pode aumentar o risco de resistência e encarecer a lavoura. Com a introdução do NRS, espera-se um novo padrão de manejo, no qual a proteção genética ganha protagonismo e oferece resultados mais duradouros, inclusive em solos já afetados.
Lançamento previsto para o fim da década
A previsão é que as primeiras variedades de soja com a tecnologia NRS estejam disponíveis no mercado brasileiro até o final desta década ou, no mais tardar, no início da próxima, dependendo das aprovações regulatórias junto às autoridades competentes e da conclusão de estudos complementares.
O Brasil será o primeiro país a receber a inovação, mas a expectativa é de que a tecnologia também seja levada a outros mercados da América Latina, onde o desafio dos nematoides também é uma realidade crescente. A iniciativa posiciona o país não apenas como um líder em volume de produção, mas também em adoção de biotecnologias agrícolas avançadas.