O capim-pé-de-galinha, nome popular da planta Eleusine indica, tem ganhado espaço de forma preocupante nas principais regiões produtoras de grãos do país. Em meio ao cenário desafiador do agronegócio, essa gramínea daninha se destaca não apenas por sua resistência aos herbicidas mais utilizados, mas também pela incrível capacidade de adaptação ao solo compactado, calor excessivo e escassez de água — fatores cada vez mais presentes nos ciclos produtivos.
Apesar de pequena e aparentemente inofensiva, a espécie pode reduzir drasticamente a produtividade da soja, com perdas que se aproximam de 50% quando o manejo não é feito de forma eficiente. A planta se desenvolve com velocidade e libera grande quantidade de sementes que permanecem viáveis no solo por muito tempo. Isso significa que, mesmo após uma aplicação de controle, a reinfecção pode acontecer rapidamente se não houver planejamento contínuo.
Ameaça crescente em diferentes culturas
Embora o impacto mais notório seja sentido nas lavouras de soja, a Eleusine indica já se tornou um problema também em áreas de milho, algodão, sorgo e, mais recentemente, em pastagens e canaviais. O avanço em diferentes sistemas produtivos amplia o risco para o produtor rural, que pode ter prejuízos significativos em áreas onde o capim já criou raízes profundas — tanto no sentido literal quanto econômico.
Nos campos de soja, as estimativas mais recentes apontam perdas de até 15 sacas por hectare em áreas infestadas. Em valores de mercado atualizados, isso representa um rombo que varia de R$ 1.300 a R$ 1.900 por hectare, o que pode impactar severamente o planejamento financeiro de toda uma safra.
Soluções tradicionais já não bastam
Durante muito tempo, o glifosato foi a principal arma contra esse tipo de invasora. No entanto, nos últimos anos, diferentes populações do capim-pé-de-galinha passaram a apresentar resistência ao produto, o que acendeu o alerta entre agrônomos e consultores técnicos. A resistência cruzada — quando uma mesma planta se torna tolerante a mais de um princípio ativo — se tornou realidade em várias regiões do país, exigindo novas soluções biotecnológicas e químicas.
O desafio maior está no fato de que a planta consegue germinar em uma ampla faixa de temperatura e umidade. Além disso, é comum encontrá-la em solos mal manejados, compactados ou com baixa oxigenação — ambientes onde outras plantas têm dificuldades, mas que se tornam perfeitos para o crescimento da Eleusine indica. Isso torna essencial a adoção de práticas agrícolas integradas, que vão muito além da simples aplicação de defensivos.
Manejo preventivo é chave para o sucesso
Diante desse cenário, o produtor precisa adotar uma postura proativa. Investir em rotação de culturas, monitorar constantemente a lavoura e, quando necessário, aplicar herbicidas com diferentes mecanismos de ação são algumas das táticas recomendadas para conter o avanço do capim. Além disso, melhorar a estrutura do solo, evitar compactação e promover cobertura vegetal ajudam a criar um ambiente menos favorável ao desenvolvimento da praga.
O aumento da infestação observado a partir da safra de 2023 mostra que o problema está longe de ser pontual. Trata-se de um novo perfil de desafio que exige inovação, atualização técnica e, principalmente, planejamento agronômico. Ignorar a presença do capim-pé-de-galinha ou subestimar seu impacto pode custar caro — e não apenas em produtividade, mas também em competitividade dentro do mercado agrícola.
A boa notícia é que, com a aplicação correta das ferramentas disponíveis e a adoção de práticas sustentáveis de manejo, é possível recuperar o controle sobre as áreas afetadas e garantir a viabilidade da produção. Afinal, no campo, prevenir continua sendo o melhor caminho para colher bons resultados.