A convivência entre lavouras de soja e colmeias de abelhas está ganhando um novo capítulo com o lançamento de uma cartilha que orienta práticas sustentáveis para a produção integrada desses dois setores fundamentais do agro brasileiro. A publicação “Boas Práticas para Integração entre Apicultura e Sojicultura” foi lançada no dia 26 de agosto e já está disponível gratuitamente no site do Senar e no aplicativo Estante Virtual.
Voltada especialmente a produtores rurais, técnicos e profissionais do campo, a cartilha reúne orientações detalhadas para que a atividade agrícola e a apicultura possam coexistir de maneira segura, eficiente e produtiva. O material é fruto de um trabalho colaborativo entre Senar, Embrapa e BASF Soluções para Agricultura, desenvolvido ao longo de três safras, em diferentes regiões do país como Paraná, Mato Grosso do Sul e Rio Grande do Sul.
Um guia que promove diálogo no campo
Mais do que um manual técnico, a cartilha defende a construção de uma comunicação sólida entre sojicultores e apicultores. Ao estimular o diálogo permanente entre os profissionais que atuam em áreas vizinhas, o material busca evitar conflitos e imprevistos, propondo o compartilhamento de informações sobre aplicações, floradas e manejo. Quando há sintonia entre as partes, as decisões passam a ser tomadas com mais consciência e responsabilidade, reduzindo riscos e ampliando os benefícios para todos.
A publicação destaca ainda que boas práticas agrícolas, como a aplicação responsável de defensivos, o respeito aos horários de maior atividade das abelhas e o uso de técnicas de manejo integrado de pragas, são essenciais para proteger os polinizadores sem comprometer a produtividade das lavouras.
Resultados práticos: soja mais produtiva, colmeias mais fortes
Um dos pontos mais relevantes apresentados na cartilha é o impacto direto da presença das abelhas na lavoura. Estudos demonstram que a produtividade da soja pode aumentar, em média, 13% quando há apiários nas proximidades, com casos registrados de ganhos de até 18%. Essa relação, ainda que a soja não seja considerada uma planta melífera clássica, mostra que os polinizadores são atraídos pelas flores da cultura, especialmente durante a coleta de néctar.
Do ponto de vista da apicultura, os ganhos também são expressivos. Enquanto a média nacional de produção de mel por colmeia gira em torno de 20 kg ao ano, apicultores que aproximaram seus apiários das áreas de soja registraram produções duas a três vezes superiores apenas durante a florada da oleaginosa. Trata-se de uma sinergia promissora, que transforma o campo em um ambiente mais produtivo e resiliente.
Sustentabilidade, biodiversidade e legado rural
A iniciativa também reforça o papel das abelhas como indicadores naturais de saúde ambiental. A aplicação correta de técnicas fitossanitárias não apenas evita danos aos polinizadores, mas favorece todo o ecossistema ao redor da produção, incluindo matas nativas, espécies silvestres e corpos d’água.
Ao adotar os protocolos da cartilha, os produtores rurais não apenas aumentam sua eficiência, como também contribuem com a conservação da biodiversidade e com as metas globais de sustentabilidade. Isso porque a polinização, como serviço ecossistêmico, é vital para a reprodução de 90% das plantas com flores no planeta, além de garantir a variedade genética, a formação de frutos, sementes e o abastecimento global de mel.
Segundo estimativas recentes, o valor econômico global gerado pela polinização na agricultura varia entre US$ 235 bilhões e US$ 577 bilhões por ano. No Brasil, esse impacto é estimado em cerca de US$ 12 bilhões, refletindo a importância de políticas e práticas que valorizem esse serviço essencial.
Um conteúdo acessível e gratuito
A cartilha faz parte da Coleção Senar e será usada como material de apoio em cursos de capacitação voltados para agricultores e apicultores em todo o país. Ela está disponível gratuitamente para download no site do Senar e em formato de e-book no app Estante Virtual, compatível com dispositivos Android e iOS.