A paisagem montanhosa, os ventos frescos da serra e o solo fértil do interior do Paraná moldaram, ao longo das décadas, mais do que uma tradição agrícola: fizeram da ponkan de Cerro Azul um símbolo de identidade e excelência.
Em 2024, essa história de raízes profundas ganha um novo capítulo: a fruta cultivada na cidade foi oficialmente reconhecida com o selo de Indicação Geográfica (IG), na categoria Indicação de Procedência (IP), conferido pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI). É o 21º selo concedido ao estado do Paraná, que se firma como um dos protagonistas na valorização de produtos com origem reconhecida.
Do plantio pioneiro ao selo de reconhecimento
A relação entre Cerro Azul e a tangerina ponkan começou a se desenhar ainda na década de 1960, quando as primeiras mudas foram introduzidas na região. Desde então, estudos sobre o solo, o clima e o manejo agrícola permitiram que os agricultores aprimorassem técnicas e aumentassem a qualidade da fruta. O resultado é um produto de casca fina, aroma intenso e sabor adocicado, cuja qualidade é reconhecida por consumidores e especialistas de todo o Brasil.
Hoje, a ponkan representa 85% da produção de tangerinas do município, sendo a principal fonte de renda da agricultura local. A importância da fruta é tamanha que, em 2018, o título de Capital Paranaense da Ponkan foi concedido por meio da Lei Estadual nº 19.529. O reconhecimento ganhou dimensão nacional em 2023, com a promulgação da Lei Federal nº 14.608, que elevou Cerro Azul à posição de Capital Nacional da Ponkan.
Sabor único e território: a alma da ponkan local
O que torna a ponkan de Cerro Azul tão especial vai além da tradição. A cidade reúne um conjunto de condições naturais raras para o cultivo da fruta: o relevo montanhoso, a amplitude térmica entre os dias quentes e as noites frias, e o solo rico em minerais contribuem diretamente para a formação de um produto com doçura acentuada, textura firme e coloração vibrante.

Essas características não são apenas percebidas no paladar — são resultado direto da interação entre o território e o cultivo, o que justifica plenamente o selo de Indicação de Procedência. Essa certificação não só atesta a origem geográfica do produto, como também protege o nome “Ponkan de Cerro Azul”, fortalecendo o valor agregado da fruta e garantindo reconhecimento oficial da sua singularidade.
Produção com força nacional e protagonismo estadual
O selo conquistado não veio por acaso. Apenas Cerro Azul e Doutor Ulysses, município vizinho, são responsáveis por 75% da produção estadual de tangerinas, de acordo com dados recentes do Sebrae-PR. Em 2022, o Paraná colheu cerca de 77,6 mil toneladas da fruta, em uma área de aproximadamente 3,9 mil hectares — o que representa 10% da produção brasileira.
Com esses números, o estado reforça sua posição entre os maiores polos da citricultura nacional, e a conquista da IG se soma a uma lista crescente de produtos paranaenses certificados, como o café do Norte Pioneiro, o mel de Ortigueira e o queijo da Colônia Witmarsum.
Indicação Geográfica
A Indicação Geográfica, concedida pelo INPI, é um instrumento que reconhece produtos cuja qualidade ou reputação estão diretamente ligadas à sua origem geográfica. Ela pode ser conferida nas modalidades de Indicação de Procedência (IP) — como é o caso da ponkan — ou Denominação de Origem (DO), quando há comprovação de que as características do produto resultam exclusivamente do meio geográfico.
Até agora, o Brasil soma 149 registros de IG, sendo 108 IPs e 41 DOs, entre nacionais e internacionais. Para Cerro Azul, essa chancela representa mais do que um selo: é a consagração de um ciclo virtuoso que une natureza, saber local e valorização da produção familiar.