Entre a expectativa de uma supersafra e os desafios impostos por fenômenos climáticos cada vez mais imprevisíveis, o milho safrinha em 2025 se transformou em um termômetro da resiliência da agricultura brasileira. O cultivo, que ocupa uma posição estratégica no calendário agrícola do país, vem enfrentando adversidades associadas principalmente ao clima, afetando diretamente a produtividade agrícola em estados-chave como Mato Grosso, Paraná, Goiás e Mato Grosso do Sul.
A instabilidade começou ainda na safra de soja 2024/2025, que registrou atrasos significativos no plantio, empurrando o calendário do milho safrinha para fora da chamada “janela ideal”. De acordo com o engenheiro agrônomo e consultor técnico João Arthur Bonetti, esse descompasso é preocupante. “Ao plantar mais tarde, o milho entra em seu estágio reprodutivo justamente no período mais seco e quente do outono. Isso impacta diretamente a formação das espigas e reduz o potencial de grãos por hectare”, afirma.
Além do deslocamento no calendário, o clima e agronegócio vêm travando um duelo cada vez mais delicado. Em 2025, a combinação entre chuvas irregulares e temperaturas elevadas no centro-sul do país resultou em estresse hídrico em diversas lavouras. Mesmo com cultivares mais tolerantes e manejo tecnológico avançado, os produtores não conseguiram evitar perdas significativas em algumas regiões, o que já reflete em ajustes nas projeções de produtividade nacional.
Segundo a meteorologista e especialista em agrometeorologia Camila Torres, o comportamento do clima nos últimos anos acende um alerta para a necessidade de adaptação no setor. “Eventos como El Niño e La Niña estão mais intensos e duradouros, o que afeta diretamente o regime de chuvas e a distribuição térmica. É fundamental investir em previsões mais precisas e no redesenho de estratégias de plantio”, destaca.
Mesmo com as adversidades, a tecnologia tem sido uma aliada na tentativa de mitigar perdas. A adoção de sementes híbridas mais resistentes ao estresse hídrico, o uso de sensores no solo e o mapeamento climático em tempo real são práticas cada vez mais comuns entre os produtores. Entretanto, o desafio maior continua sendo a tomada de decisão dentro de um cenário incerto e, muitas vezes, volátil.
Outro ponto sensível é o impacto econômico gerado por safras irregulares. Com menor volume colhido, a oferta interna de milho pode diminuir, pressionando preços e influenciando a cadeia produtiva, especialmente setores que dependem do grão como matéria-prima, como a produção de ração animal. Além disso, o Brasil, que se consolidou como um dos maiores exportadores de milho do mundo, pode enfrentar dificuldades para cumprir contratos internacionais se a produtividade continuar oscilando.
Mesmo diante desse cenário desafiador, especialistas reforçam que o milho safrinha continua sendo uma cultura estratégica para o Brasil. Contudo, a permanência desse protagonismo exigirá uma leitura cada vez mais refinada do clima, políticas públicas que incentivem a pesquisa e o desenvolvimento agrícola, e uma constante atualização por parte dos produtores. Como observa Bonetti, “o futuro da produtividade no campo passa, inevitavelmente, pela capacidade do agronegócio em se adaptar às mudanças do tempo”.