Manter uma produção rural eficiente e legalmente adequada exige mais do que dominar o plantio e a colheita. Por trás da lida no campo, há um sistema tributário que impõe regras específicas para quem vive da terra. Compreender essas exigências não só evita problemas com o fisco, como também pode gerar economia, planejamento e até oportunidades de crescimento. A escolha do regime tributário adequado e o correto uso de maquinários têm papel crucial nesse cenário.
O engenheiro agrônomo e consultor tributário Otávio Miranda, que acompanha de perto o desempenho de médios e grandes produtores no interior do Mato Grosso, destaca que “a complexidade da tributação rural é muitas vezes subestimada. Ainda há quem acredite que o campo está isento de regras fiscais, o que não é verdade. O segredo está em conhecer as opções disponíveis e alinhar isso à estrutura do negócio”.
Como funciona a tributação da atividade rural no Brasil
O produtor rural pode atuar como pessoa física ou jurídica — e isso impacta diretamente a forma como ele será tributado. Quando exerce a atividade como pessoa física, por exemplo, o produtor pode optar pela declaração completa ou simplificada do Imposto de Renda, considerando o chamado livro-caixa, que registra as receitas e despesas da atividade agropecuária.
Por outro lado, como pessoa jurídica, o produtor pode aderir ao Lucro Presumido ou ao Lucro Real, duas modalidades com regras bem distintas. No primeiro, a tributação é calculada sobre uma margem presumida de lucro (normalmente 20% da receita bruta), o que simplifica a apuração. No segundo, tributa-se o lucro efetivo, o que exige controles contábeis detalhados, mas pode ser vantajoso quando os resultados são baixos ou os custos são muito elevados.
Aliás, o produtor deve considerar, junto ao seu contador, se a movimentação anual de sua propriedade justifica a formalização como pessoa jurídica. Como explica a contadora especializada em agronegócio Fernanda Lopes, “a formalização traz mais controle e pode abrir portas para crédito rural com melhores condições, além de permitir benefícios fiscais mais sofisticados para quem investe em inovação e tecnologia no campo.”
A importância estratégica da mecanização agrícola na apuração de tributos
Além da escolha do regime tributário, a forma como o produtor investe em infraestrutura e máquinas agrícolas pode impactar diretamente a sua carga tributária. Equipamentos como tratores, colheitadeiras e pulverizadores, quando adquiridos via CNPJ e lançados como ativo imobilizado, podem ser utilizados para gerar amortizações e depreciações contábeis. Na prática, isso reduz o lucro tributável e pode representar economia no pagamento de impostos.
Essa é uma técnica bastante usada por produtores que optam pelo Lucro Real, já que cada centavo investido pode ser deduzido. “O maquinário agrícola deixou de ser apenas um facilitador da produção e passou a ser uma ferramenta de gestão fiscal inteligente”, afirma Otávio Miranda.
Entretanto, é preciso critério: a aquisição de máquinas deve ser planejada com base no cronograma da safra e na viabilidade financeira do negócio. Quando bem empregadas, além de agilizarem os processos de plantio e colheita, as máquinas contribuem para eficiência energética, redução de perdas e melhor uso dos insumos — elementos que, direta ou indiretamente, fortalecem a saúde econômica da propriedade.
Situações em que o produtor precisa atenção redobrada
Apesar de o setor agropecuário contar com alguns incentivos fiscais, como isenção de ICMS em certas operações ou benefícios na comercialização para exportação, há situações em que a desinformação pode gerar passivos elevados. Um exemplo recorrente, segundo Fernanda Lopes, está no recolhimento da Contribuição Previdenciária Rural, conhecida como Funrural. “Muitos produtores se esquecem que, mesmo com a venda de produtos para terceiros, o tributo deve ser recolhido, e a não observância disso tem gerado autuações e multas severas”, alerta.
Outro ponto delicado envolve o uso de máquinas financiadas em nome de terceiros ou adquiridas sem nota fiscal. Além de configurar irregularidade, essa prática impede a escrituração correta e anula qualquer benefício contábil. Assim, para o produtor que deseja se manter competitivo e crescer com segurança, a palavra-chave é regularidade — tanto na operação quanto na documentação.
Planejamento tributário: o diferencial para quem vive do campo
Em um cenário onde os custos de produção são altos e o mercado está cada vez mais exigente, o planejamento tributário deixou de ser um luxo para se tornar uma necessidade. Ele permite ao produtor visualizar o impacto fiscal das suas decisões, desde a escolha do regime até o tipo de investimento em estrutura e maquinário.
E não se trata apenas de pagar menos imposto, mas de pagar o justo. Como ressalta Otávio Miranda, “o planejamento é o que transforma o produtor em gestor. Quem entende como sua atividade é tributada toma decisões melhores, evita surpresas desagradáveis e constrói um negócio sólido.”
Portanto, mais do que cumprir obrigações legais, compreender a lógica da tributação rural é um passo fundamental para quem deseja crescer no campo com inteligência, segurança e sustentabilidade.