A realização da COP30 em Belém, prevista para 2025, já movimenta o debate sobre o papel do Brasil na transição para uma economia mais sustentável. O agronegócio, um dos pilares da economia nacional, está no centro dessa transformação. A conferência, voltada a discutir medidas de combate às mudanças climáticas, ampliou a pressão — e também as oportunidades — para que o setor adote práticas mais responsáveis, conciliando produção em larga escala com preservação ambiental.
Para o engenheiro agrônomo e consultor ambiental Paulo Mendes, a COP30 representa “uma vitrine sem precedentes para mostrar ao mundo que o Brasil pode liderar um modelo de produção que respeita o meio ambiente e ainda gera crescimento econômico”. Ele ressalta que a demanda global por alimentos sustentáveis cresce rapidamente, e o país, com sua diversidade de biomas e tecnologia de ponta, tem condições únicas para atender a esse mercado.
Sustentabilidade como diferencial competitivo
Após o evento, cresce a expectativa de que produtores invistam de forma mais consistente em práticas regenerativas, como o plantio direto, a integração lavoura-pecuária-floresta e o uso de bioinsumos. Essas técnicas reduzem a emissão de gases de efeito estufa, melhoram a qualidade do solo e ainda aumentam a produtividade. Além disso, o monitoramento por satélite e os sistemas de rastreabilidade estão se tornando aliados estratégicos para garantir transparência e atender a certificações internacionais.
Segundo Carla Fonseca, pesquisadora em políticas agrícolas e mudanças climáticas, “os mercados consumidores mais exigentes já cobram comprovação de origem e métricas ambientais. Quem se adiantar nesse processo não só cumpre as metas climáticas, como também conquista espaço privilegiado nas exportações”. Ela destaca que programas de crédito rural atrelados a metas ambientais, como o Plano ABC+, devem ganhar mais adesão e servir de incentivo para a adoção de tecnologias limpas.
Novos caminhos para o campo brasileiro
A COP30 reforçou que a transição sustentável não é apenas uma demanda ambiental, mas uma exigência de mercado e governança. Grandes produtores e cooperativas já se movimentam para criar metas próprias de descarbonização, enquanto pequenos agricultores encontram apoio em programas de assistência técnica para reduzir impactos ambientais e aumentar a eficiência produtiva.
O avanço da agricultura de precisão, aliado ao uso de drones, sensores e inteligência artificial, também deve ganhar protagonismo no período pós-COP30. Essas ferramentas permitem otimizar o uso de insumos, reduzir desperdícios e ampliar a produtividade de forma sustentável. Paralelamente, cresce o investimento em energias renováveis no campo, como a instalação de painéis solares e biodigestores para aproveitamento de resíduos orgânicos.
O desafio de equilibrar produção e preservação
Apesar do avanço nas práticas verdes, o setor enfrenta o desafio de ampliar a escala dessas iniciativas sem comprometer a rentabilidade. A mudança cultural é um dos pontos centrais, já que a adoção de tecnologias sustentáveis exige investimento inicial e adaptação do manejo. Entretanto, especialistas reforçam que os ganhos a médio e longo prazo, tanto em produtividade quanto em acesso a mercados, superam os custos.
A COP30, ao projetar o Brasil como protagonista no debate climático, colocou o agronegócio em evidência e acelerou a urgência de um modelo que una eficiência, inovação e responsabilidade socioambiental. Como resume Paulo Mendes, “o mundo está observando. E essa é a hora de mostrar que é possível produzir mais, degradando menos e gerando valor para todos os elos da cadeia”.