O agronegócio brasileiro, motor da economia nacional e responsável por cifras bilionárias em exportações, vive um momento de alta tensão. À medida que se aproximam as possíveis sanções tarifárias impostas pelos Estados Unidos, líderes do setor alertam para consequências profundas, especialmente em áreas sensíveis como o café e o etanol. Segundo Luiz Carlos Corrêa Carvalho, presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), o Brasil corre o risco de enfrentar um colapso comercial com um de seus maiores parceiros internacionais.
“Estamos a poucos dias de um desastre para o agro”, declarou Carvalho durante participação no programa WW, da GloboNews. A declaração resume o sentimento de frustração e urgência que tomou conta do setor, diante da falta de respostas diplomáticas eficazes para conter a crise.
Café sob ataque: impacto vai além do campo
Um dos produtos mais simbólicos da agricultura brasileira, o café ocupa papel central nessa disputa comercial. O grão representa cerca de um terço das exportações brasileiras para o mercado americano, movimentando bilhões de dólares por ano. Mas, como aponta Carvalho, o impacto vai além do faturamento: o café brasileiro sustenta cadeias produtivas inteiras nos Estados Unidos, com milhares de empregos gerados na torrefação, distribuição e varejo.
“É uma interdependência real. Há benefícios econômicos mútuos que estão sendo ignorados neste embate”, explica o economista agrícola Daniel Furlan, especialista em comércio internacional. Para ele, qualquer barreira tarifária compromete não apenas os produtores brasileiros, mas toda a lógica de abastecimento que os Estados Unidos construíram em torno do café nacional.
Etanol e desequilíbrio estrutural
Outro ponto crítico no tabuleiro é o mercado de etanol. Os Estados Unidos, maiores produtores mundiais do biocombustível, enfrentam um desafio interno: um excedente anual de aproximadamente 7 bilhões de litros. Segundo o presidente da Abag, a pressão americana recai agora sobre o Brasil como tentativa de absorver parte desse excedente e reequilibrar a balança interna. “Há uma tentativa clara de empurrar para nós uma sobreoferta que não é nossa responsabilidade”, observa Carvalho.
Esse movimento se traduz em ações tarifárias que, segundo ele, visam conter o etanol brasileiro para abrir espaço ao produto americano nos mercados externos — em especial na Ásia, onde ambos os países competem diretamente. Para o engenheiro agrônomo e consultor internacional Marco Aurélio Diniz, esse é um jogo de força que exige posicionamento político firme. “Não basta tentar apagar incêndios em Washington. É necessário um plano coordenado de defesa comercial e articulação estratégica em bloco, com apoio de outros países exportadores”, afirma.
Diplomacia ausente e riscos globais
Enquanto senadores brasileiros se mobilizam para negociações diretas com autoridades americanas, o setor agroindustrial cobra mais clareza e ação do governo federal. Segundo Carvalho, faltam articulação diplomática robusta e uma postura mais ativa na defesa dos interesses nacionais.
“O Brasil tem papel central nas cadeias globais de alimentos e energia renovável. Não podemos permitir que nossas vantagens competitivas sejam neutralizadas por medidas unilaterais”, ressalta. Ele também defende que o país busque fortalecer alianças comerciais com a Ásia e outros polos emergentes, diversificando mercados para reduzir a vulnerabilidade externa.
Discussion about this post