Desde o início de agosto, os exportadores brasileiros de frutas frescas enfrentam uma barreira significativa no mercado norte-americano. Com a entrada em vigor da nova tarifa de 50% imposta pelos Estados Unidos, a competitividade da fruticultura nacional foi diretamente abalada. A sobretaxa, que adiciona 40% à já existente alíquota de 10%, trouxe instabilidade e preocupação a um setor que há anos busca ampliar sua presença internacional com base em qualidade, eficiência logística e compromisso comercial.
Apesar do aumento de custos, os embarques de frutas como manga e uva continuam, ainda que sob pressão. Segundo levantamento do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), parte das exportações será mantida ao longo do segundo semestre, principalmente para honrar contratos estratégicos firmados antes do anúncio das novas regras. Esse esforço evita, por ora, um colapso na cadeia produtiva, mas não elimina os efeitos colaterais previstos para os próximos ciclos.
Manga e uva enfrentam tarifa integral; suco de laranja escapa da sobretaxa
Entre os produtos analisados pelo Cepea, três merecem atenção: suco de laranja, manga e uva. No caso do suco de laranja, apenas o produto in natura manteve a antiga alíquota de 10%, sem sofrer os 40% adicionais. Subprodutos da fruta, no entanto, não foram contemplados pela exceção. Além disso, o suco ainda é taxado com uma tarifa fixa de 415 dólares por tonelada, o que mantém certa pressão sobre o setor industrial.
A isenção parcial só foi possível graças à articulação direta entre representantes da CitrusBR e autoridades norte-americanas, o que ressalta a relevância do suco brasileiro nos Estados Unidos. Com investimentos bilionários em fábricas e terminais no país, a indústria conseguiu demonstrar sua importância estratégica na cadeia de suprimentos norte-americana. “Essa relação de interdependência foi essencial para garantir a continuidade das exportações, mesmo que em termos limitados”, avaliou a CitrusBR ao Cepea.
Em contraste, os setores de manga e uva amargam o peso total da tarifa, que eleva os preços finais nos mercados de destino e reduz significativamente as margens de lucro dos produtores. Além disso, a elevação dos custos logísticos e a impossibilidade de readequar rotas comerciais em meio à safra tornaram inviável a realocação imediata da produção para outros mercados, como Europa ou América do Sul.
Setor busca reação com apoio do governo e negociação com importadores
Para enfrentar a crise, a Abrafrutas (Associação Brasileira dos Produtores Exportadores de Frutas e Derivados) tem defendido uma estratégia de atuação em duas frentes: diálogo com os importadores norte-americanos para minimizar os impactos nos contratos vigentes e pressão junto ao governo brasileiro por medidas emergenciais.
Entre as principais demandas estão o acesso facilitado a crédito rural com juros mais baixos, prorrogação de financiamentos existentes, antecipação de valores relacionados à exportação e restituição mais ágil de tributos como o ICMS. Sem esse respaldo institucional, a entidade teme uma desaceleração nos investimentos em polos importantes, como o Vale do São Francisco, e um excedente de frutas no mercado interno, o que poderia levar à desvalorização dos preços.
A preocupação se estende também a outras cadeias produtivas que, embora ainda não tenham sido diretamente afetadas pelas novas tarifas, estão vulneráveis ao enfraquecimento da confiança no setor. Açaí, gengibre e outros frutos tropicais entram no radar de risco caso não haja uma reorganização da política de apoio à exportação.
Diversificação de mercados e colheita escalonada como soluções estratégicas
Segundo Margarete Boteon, coordenadora da Hortifruti Brasil, ações coordenadas entre os agentes do setor e políticas públicas bem direcionadas são o caminho para mitigar os efeitos dessa nova realidade. “Manter os embarques em andamento e, ao mesmo tempo, abrir novos canais comerciais na Ásia, Europa e América do Sul é fundamental para preservar a rentabilidade, a competitividade internacional e a capacidade de investimento da fruticultura brasileira”, afirma.
A especialista ainda recomenda o escalonamento das colheitas, redução de custos operacionais e reavaliação logística como formas de adaptação rápida, especialmente em culturas mais sensíveis à volatilidade cambial e às barreiras tarifárias.