Resumo
• A safra 2025/26 começou otimista com o fim da sobretaxa dos EUA e a recuperação da produção paulista, mas as exportações de suco seguem abaixo do esperado.
• A demanda europeia permanece fraca, reduzindo o ritmo dos embarques e frustrando as projeções iniciais do setor.
• Indústrias processadoras adotam postura cautelosa, evitando novos contratos e priorizando compras pontuais no mercado spot.
• Os preços mais baixos oferecidos às frutas comprometem a rentabilidade dos citricultores e colocam em risco a sustentabilidade dos pomares.
• A continuidade desse cenário pode afetar futuros ciclos produtivos, aumentando a tensão e a insegurança no setor citrícola brasileiro.
A temporada 2025/26 começou com otimismo para o setor de suco de laranja no Brasil. O fim da sobretaxa aplicada pelos Estados Unidos às importações da commodity brasileira parecia abrir caminho para um ciclo mais aquecido nas exportações. Além disso, a recuperação na produção paulista, após anos de instabilidade, sinalizava um fôlego renovado para a citricultura nacional. No entanto, passados os primeiros meses da safra — de julho a outubro —, o que se vê é um mercado travado, exportações abaixo do esperado e um clima de incerteza que já se instala nos bastidores das indústrias processadoras.
O entrave principal vem do mercado europeu. A demanda internacional pelo suco brasileiro, especialmente por parte da União Europeia, segue morna, frustrando as expectativas traçadas no início do ciclo. Com estoques cheios e consumo desaquecido, o ritmo das compras internacionais não acompanhou a oferta nacional — que, aliás, começou a ganhar corpo justamente neste período.
Essa desaceleração nas exportações afetou diretamente o comportamento das indústrias, principalmente no estado de São Paulo, epicentro da produção citrícola do país. Grandes processadoras têm adotado uma estratégia de contenção, interrompendo temporariamente a formalização de novos contratos com produtores e optando por compras pontuais no chamado mercado spot — onde o volume é menor e os valores oferecidos também. A prioridade tem sido cumprir os acordos firmados anteriormente, enquanto aguardam sinais mais concretos da retomada internacional.
Essa postura cautelosa por parte das indústrias traz consequências diretas aos produtores. Sem previsibilidade, os citricultores se veem diante de uma instabilidade perigosa. Os preços ofertados no mercado à vista, mais baixos do que os praticados no início da safra, não cobrem os custos de manejo de muitos pomares, especialmente aqueles com maior investimento em tecnologia, irrigação e controle fitossanitário.
A situação preocupa porque, se persistir, pode comprometer não apenas a rentabilidade da temporada atual, mas também o planejamento dos próximos ciclos. Isso porque o cultivo da laranja é uma atividade de médio a longo prazo, que exige investimentos constantes — desde a formação do pomar até o ponto ideal de colheita. Com menos receita e pouca garantia de venda, muitos produtores podem rever seus planos, reduzir áreas plantadas ou até abandonar a atividade.
Por ora, o setor observa com cautela os desdobramentos do cenário externo. Se o consumo europeu voltar a crescer e os embarques forem retomados em ritmo mais intenso nos próximos meses, há chance de recuperação nas negociações. Mas, até lá, o clima de espera predomina — e, com ele, a tensão silenciosa que percorre os laranjais do interior paulista.



