Resumo
• Os primeiros focos de ferrugem asiática da safra 25/26 surgiram no PR e em SP, elevando o alerta entre produtores devido ao início precoce da doença.
• O clima chuvoso e úmido favorece a rápida disseminação do fungo, especialmente no Sul e no Cerrado, ampliando o risco nas primeiras áreas semeadas.
• A Portaria nº 1.124 reforça medidas como vazio sanitário e calendário de semeadura, essenciais para reduzir a pressão inicial do patógeno.
• O monitoramento constante desde a emergência é decisivo, com inspeção das folhas inferiores para identificar sinais precoces da ferrugem.
• Sem controle preventivo adequado, a doença pode destruir até 90% da lavoura, exigindo vigilância rigorosa diante da possível escassez de multissítios.
A confirmação dos primeiros focos de ferrugem asiática da soja na safra 2025/26, identificados em Corbélia (PR) e Itapetininga (SP), acende um sinal de alerta logo no início do ciclo produtivo. Embora o surgimento precoce da doença não seja incomum em anos de alta umidade, o contexto atual traz uma complexidade adicional: a previsão de escassez de fungicidas multissítios, considerados essenciais para compor programas eficazes de controle.
Assim, produtores entram na nova safra diante de um cenário que exige atenção redobrada, planejamento técnico e decisões rápidas para evitar perdas expressivas.
Clima, umidade e o avanço do fungo nas lavouras
O ambiente climático observado no Sul e no Cerrado favorece de forma intensa o desenvolvimento do Phakopsora pachyrhizi, fungo responsável pela ferrugem asiática. Chuvas frequentes, temperaturas amenas e longos períodos de molhamento foliar criam condições ideais para a disseminação dos esporos, que podem se espalhar com velocidade entre plantas e talhões. Além disso, as previsões de volumes elevados de precipitação para regiões do Cerrado reforçam o risco de avanço da doença, particularmente em áreas que realizaram semeaduras mais precoces ou adotam cultivares de ciclo longo.
Esse conjunto de fatores meteorológicos torna o início da safra especialmente sensível, sobretudo porque coincide com o momento em que a demanda por insumos estratégicos aumenta. Em um período de menor oferta de multissítios, a adoção disciplinada de práticas preventivas ganha protagonismo para evitar a instalação da doença em estágios nos quais o controle se torna mais difícil e oneroso.
Ferrugem asiática: prevenção, vigilância e legislação
Para enfrentar um patógeno tão agressivo e de ciclo rápido, o Brasil consolidou nos últimos anos políticas públicas específicas. Em junho de 2024, o Ministério da Agricultura instituiu, por meio da Portaria nº 1.124, o Programa Nacional de Controle da Ferrugem-asiática da Soja (PNCFS), que reforçou mecanismos já conhecidos pelos produtores, como o vazio sanitário e o calendário de semeadura. Ambas as medidas são fundamentais para reduzir a pressão inicial de inóculo, diminuindo a necessidade de aplicações sucessivas de fungicidas e aumentando a eficiência dos produtos disponíveis.
No campo, a prática determinante continua sendo o monitoramento constante. A observação deve começar desde a emergência, com foco em áreas úmidas, bordas de talhões e lavouras que semeiam precocemente. A inspeção de folhas do terço médio e inferior das plantas, observadas contra a luz, é uma das formas mais eficientes de identificar as primeiras pústulas, que surgem como pontuações escuras e se tornam mais evidentes próximos ao florescimento ou ao fechamento das entrelinhas.
Impactos potenciais e a necessidade de resposta rápida
A ferrugem asiática continua sendo, de longe, a doença de maior impacto econômico na sojicultura. De acordo com publicações técnicas, quando não controlada no momento adequado, pode destruir até 90% de uma lavoura, comprometendo completamente o retorno financeiro de uma safra. Assim, mesmo em anos com boa disponibilidade de insumos, o manejo preventivo é indispensável; contudo, na atual conjuntura de restrição de multissítios, torna-se ainda mais estratégico.
Por isso, o início da safra 25/26 pede uma condução minuciosa, integrando clima, legislação, calendário e observação de campo. A rápida identificação dos focos no Paraná e em São Paulo mostra que o patógeno já está ativo, mas também evidencia que a vigilância tem funcionado. Mantê-la será decisivo para proteger o potencial produtivo das áreas semeadas e garantir estabilidade na produção diante de uma doença que permanece como um dos maiores desafios fitossanitários da agricultura brasileira.



