Quando o frio aperta no interior do Rio Grande do Sul, ele não chega sozinho. Traz consigo o risco de geadas intensas que ameaçam lavouras inteiras, especialmente aquelas dedicadas às hortaliças mais sensíveis. O cenário exige mais do que atenção: demanda conhecimento, ação planejada e adoção de técnicas que possam preservar tanto a produtividade quanto a renda dos agricultores.
Em regiões como os Campos de Cima da Serra, onde culturas como batata, couve-brócolis, cebola, tomate e aipim compõem a base da produção agrícola, a chegada do inverno requer estratégias claras de manejo para que os danos sejam minimizados.
Entenda os impactos das geadas nas hortaliças
As geadas são particularmente prejudiciais às olerícolas porque provocam o congelamento da água presente nas células das plantas. Quando isso acontece, a ruptura das paredes celulares gera necroses, compromete o desenvolvimento vegetativo e pode levar à perda total do cultivo. Os efeitos são ainda mais severos em estágios críticos como floração ou frutificação, o que compromete o rendimento da lavoura e, em muitos casos, inviabiliza a colheita.
Além dos danos físicos, o frio intenso e a baixa luminosidade que o acompanham reduzem a taxa de fotossíntese das plantas, deixando-as mais vulneráveis a doenças fúngicas e bacterianas. O resultado é um ciclo de perdas que, se não for prevenido, exige replantio e aumenta os custos para o produtor. Na região de Santa Rosa, por exemplo, muitos agricultores precisaram eliminar áreas inteiras danificadas pelas geadas mais recentes, substituindo-as por novas mudas.
Técnicas simples que fazem a diferença
A boa notícia é que há, sim, maneiras eficazes de proteger a produção. O uso de coberturas físicas, como estufas e túneis baixos, ajuda a manter o ambiente levemente mais quente, o suficiente para evitar que a formação de geada afete diretamente as folhas. Mesmo variações de um ou dois graus já são capazes de impedir que o frio destrua a lavoura.
Outro cuidado essencial está na irrigação controlada. Aplicar água no momento certo — geralmente nas horas que antecedem o amanhecer — pode manter a temperatura ao redor das plantas estável e impedir o congelamento celular. No entanto, é fundamental que essa prática seja feita com critério, pois o excesso de umidade favorece o surgimento de doenças e o apodrecimento das raízes.
Cultivos mais resistentes e planejamento do calendário
Algumas hortaliças, como alface, rúcula e espinafre, são mais sensíveis às oscilações bruscas de temperatura. Por isso, escolher cultivares mais tolerantes ao frio e organizar a época de plantio de acordo com as previsões climáticas é um diferencial. Ajustar o calendário agrícola com base em boletins meteorológicos permite que o produtor evite o cultivo em períodos de maior risco, concentrando o plantio nas janelas mais seguras.
O cultivo em ambiente protegido também tem ganhado protagonismo no manejo de olerícolas no Rio Grande do Sul. Estufas bem construídas, aliadas à ventilação e controle de umidade, garantem estabilidade e maior segurança, inclusive em municípios como Caxias do Sul, São José do Norte, Bom Jesus e Tavares, onde o cultivo de tomate, cebola e folhosas representa uma importante fonte de renda para famílias agricultoras.