Um novo capítulo se abre para o cultivo do tomate no Brasil com o avanço genético alcançado por pesquisadores que mapearam um gene responsável por uma característica até então pouco explorada: o porte ereto das folhas da planta. Essa descoberta, que se apoia em anos de observação em campo e análises moleculares, pode transformar radicalmente a forma como o tomate é cultivado, especialmente no sistema de produção intensiva.
Ao identificar o gene presente no cromossomo 10 do tomateiro, os cientistas puderam entender como certas plantas desenvolvem folhas voltadas para cima, de maneira natural. Essa arquitetura diferenciada reduz a sobreposição entre as folhas, o que melhora a absorção de luz e reduz o estresse térmico, principalmente nas horas mais quentes do dia. Ao evitar o sombreamento excessivo entre as próprias folhas, a planta passa a utilizar a luz solar de maneira mais eficiente, o que reflete diretamente em sua produtividade.
Tomate com arquitetura vertical: mais luz, menos calor
Além de aprimorar a fotossíntese, o porte vertical das folhas favorece o controle térmico da planta. Com o sol incidindo de forma mais difusa, o vegetal perde menos água e sofre menos com as altas temperaturas. A mudança na distribuição das folhas, portanto, não é apenas estética ou morfológica — ela tem implicações práticas e agronômicas relevantes.
Aliás, essa nova configuração também facilita o controle de pragas e doenças. O posicionamento das folhas permite uma maior exposição da superfície inferior, justamente o local preferido por muitos insetos, como as moscas-brancas, para realizar suas posturas. Com essa parte mais visível, tanto o controle químico quanto o biológico tornam-se mais eficazes, contribuindo para uma produção mais saudável e menos dependente de defensivos.
Cultivo intensivo e menor incidência de pragas
Um dos maiores impactos esperados com a adoção de cultivares com folhas eretas é a possibilidade de aumentar a densidade de plantio. Ao permitir que mais plantas ocupem o mesmo espaço, sem prejudicar o acesso à luz, esse sistema favorece diretamente o rendimento por hectare. Isso é especialmente promissor para o tomate industrial, cuja produtividade é um fator decisivo para a competitividade.
A exposição foliar ampliada também tem impacto direto sobre a sanidade das lavouras. Ensaios conduzidos em plantas com a nova configuração genética mostraram uma redução significativa na presença de pragas como a mosca-branca. Essa vantagem resulta em menor necessidade de aplicações e maior eficiência no controle biológico, além de favorecer o equilíbrio do ecossistema agrícola.
Um gene, múltiplos caminhos para o futuro
Embora o estudo tenha se concentrado no tomateiro, as implicações dessa descoberta vão além. A presença de genes semelhantes em outras culturas, como o milho, o pêssego e várias hortaliças, abre caminho para que a mesma abordagem genética seja aplicada em diferentes espécies. Ao ajustar a arquitetura das plantas, torna-se possível aprimorar cultivos em larga escala, com ganhos em produtividade, sustentabilidade e uso racional de recursos naturais.
A edição genética, feita com ferramentas modernas como a CRISPR-Cas9, permite replicar o resultado com precisão em outras variedades. O gene identificado poderá ser ativado ou inibido conforme o objetivo de cada cultura, respeitando as particularidades de porte, clima e manejo.