Nas regiões mais secas do Brasil, onde o céu azul sem nuvens por vezes significa perda de safra, uma nova esperança começa a surgir a partir de um lugar improvável: o próprio solo do semiárido. Isolada em áreas áridas do interior do Ceará, uma bactéria nativa está no centro de uma tecnologia capaz de mudar o futuro da agricultura em tempos de clima instável. A novidade atende pelo nome de Hydratus, um bioinsumo biológico desenvolvido pela Embrapa Milho e Sorgo em parceria com a empresa Bioma, e que promete reforçar a resistência das plantas diante da escassez hídrica — desafio crescente nas lavouras brasileiras.
Produzido com base na Bacillus subtilis, uma bactéria conhecida por sua robustez e versatilidade, o Hydratus atua diretamente na promoção de raízes mais profundas e sistemas radiculares mais eficientes. Isso significa, na prática, que as plantas conseguem explorar melhor o solo em busca de umidade, mesmo quando as chuvas falham. O bioinsumo já está registrado para uso na cultura da soja e, conforme os estudos avançam, deve ser liberado para outras espécies de interesse agrícola, como o milho e o sorgo.
Segundo a Bioma, que participou do desenvolvimento, os testes realizados em campo mostraram ganhos reais de produtividade: lavouras de milho tiveram um incremento de até 7,7 sacas por hectare, enquanto a soja apresentou um aumento de 4,8 sacas por hectare. Mais do que números, os resultados indicam um ganho estratégico para o produtor, que passa a contar com uma ferramenta eficiente mesmo em períodos de chuvas irregulares ou temperaturas extremas.
Além de mitigar os efeitos do estresse hídrico, o Hydratus contribui para um uso mais racional da água na agricultura, aliando produtividade à sustentabilidade. Seu diferencial está não apenas na cepa da bactéria, mas na fórmula que garante maior sobrevivência dos micro-organismos no solo. Com uma alta concentração de células vivas e uma combinação de agentes protetores, o produto mantém sua eficácia mesmo em condições desfavoráveis — seja no armazenamento ou após a aplicação.

A inovação é resultado de um projeto de pesquisa que se estendeu por oito anos, coordenado pela pesquisadora Eliane Aparecida Gomes, da Embrapa. O processo envolveu a triagem de bactérias em ambientes com baixa precipitação e a seleção de organismos com alta tolerância à seca. Os estudos foram conduzidos tanto em laboratório quanto em áreas agrícolas comerciais, para comprovar o desempenho em diferentes cenários climáticos e de solo.
Segundo nota técnica da Embrapa, os avanços promovidos pelo Hydratus devem ajudar a fortalecer o setor agrícola diante das mudanças climáticas, que tornam o planejamento e a execução das safras cada vez mais desafiadores. Ao ampliar a resiliência das plantas e otimizar a absorção de nutrientes e água, o inoculante não apenas garante melhores colheitas, mas se insere em uma estratégia maior de adaptação da agricultura brasileira aos impactos ambientais que já estão em curso.