A temporada 2025/26 da agricultura brasileira poderá começar com um empurrão do clima. A formação de um episódio de La Niña, ainda que de intensidade considerada fraca, está prevista para os próximos meses, com impacto direto no calendário de plantio da soja. Ao contrário do que se viu no ciclo anterior, a expectativa é de uma antecipação nas chuvas, criando uma janela mais favorável ao desenvolvimento inicial das lavouras, principalmente nas regiões Centro-Oeste e Sudeste.
Com projeções apontando o pico do fenômeno já para novembro, os produtores podem se beneficiar de uma regularização mais precoce das precipitações. Isso tende a acelerar a semeadura da soja e permitir que, em alguns estados, a colheita comece ainda em dezembro. A dinâmica é bem diferente da vivida em 2024, quando o plantio foi retardado pela falta de umidade no solo, com chuvas significativas chegando apenas na segunda metade de outubro.
Além disso, a probabilidade de um regime de chuvas mais equilibrado durante o verão traz perspectivas animadoras para a produtividade. Embora o La Niña costume provocar secas em determinadas áreas do país, os modelos climáticos apontam que o maior impacto de estiagem deve se concentrar no final da primavera. Isso significa que, caso haja um período de tempo seco, ele deve ocorrer entre o fim de novembro e o início de janeiro — uma fase em que a soja ainda não está em pleno enchimento de grãos, o que diminui os riscos de perdas expressivas.
Condições ideais para soja, cana e café
O possível adiantamento das chuvas cria uma sinergia positiva não apenas para a soja, mas também para culturas perenes, como o café, e semiperenes, como a cana-de-açúcar. Após um ano de estiagem severa, as lavouras de café tendem a reagir bem ao novo cenário hídrico, embora exista a possibilidade de floradas múltiplas — algo que pode comprometer a uniformidade e, consequentemente, a qualidade dos frutos.
A cana-de-açúcar, por sua vez, deve apresentar uma recuperação em termos de produtividade. No entanto, o excesso de chuva ao longo da safra pode restringir os dias úteis de moagem, sobretudo nas regiões que operam com maior intensidade logística durante o verão.
Outro setor que pode colher bons frutos é o de citros. Com a umidade adequada ao longo da primavera e início do verão, a florada da laranja tende a ser abundante, o que pode resultar em safras volumosas em 2026. A condição climática, portanto, alimenta o otimismo generalizado em várias cadeias produtivas — uma recuperação desejada após ciclos marcados por quebras consecutivas.
Sul ainda inspira cuidados com clima extremo
Apesar do cenário mais promissor para boa parte do país, o Sul continua sendo uma região de atenção. A combinação de estiagens persistentes com possíveis ondas de frio pode prejudicar, mais uma vez, o desempenho das lavouras precoces. Caso o milho seja plantado muito cedo, por exemplo, poderá enfrentar geadas ainda no início do ciclo, comprometendo a produtividade.
No caso específico do Rio Grande do Sul, há uma peculiaridade: o plantio tardio do trigo neste ano resultará numa colheita mais próxima de novembro. Se a estiagem se confirmar justamente nesse período, o resultado pode até ser positivo, com menor umidade no solo favorecendo a qualidade do grão. Já a semeadura da soja, nesse contexto, ocorreria com o solo mais seco, o que não necessariamente é negativo — desde que haja reposição hídrica adequada logo em seguida, como esperado para a segunda quinzena de janeiro.
Potencial produtivo animador para 2026
Com um ciclo iniciado mais cedo, especialistas projetam uma oferta significativa de soja ainda no início de 2026, o que deve impactar positivamente tanto o mercado interno quanto as exportações. A estimativa de produção nacional gira entre 170 e 180 milhões de toneladas, resultado impulsionado pela ampliação de área plantada — prevista em cerca de 1,5% — e por condições climáticas menos severas em regiões tradicionalmente afetadas.