A temporada de milho no Brasil caminha para resultados impressionantes. Com clima favorável, avanços tecnológicos e ampliação das áreas cultivadas, o país está próximo de alcançar uma safra recorde estimada em 128,3 milhões de toneladas, segundo projeções atualizadas. A segunda safra, em especial, lidera esse avanço, com expectativa de 101 milhões de toneladas — um salto de mais de 12% em relação ao ciclo anterior.
No entanto, esse cenário promissor tem sido colocado à prova por uma ameaça conhecida dos produtores: a lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda). A praga, que já causou perdas significativas em outros ciclos, voltou a se tornar protagonista indesejada nas lavouras brasileiras, especialmente nas regiões com cultivo contínuo e veranicos prolongados. A combinação de temperaturas elevadas e ausência de um inverno rigoroso favoreceu a sua rápida reprodução e dispersão, gerando alerta em diversas regiões produtoras.
Além de atacar o milho desde as fases iniciais, a lagarta compromete folhas, espigas e o colo da planta. Esse dano múltiplo afeta diretamente a fotossíntese, o enchimento de grãos e até mesmo o suporte estrutural das plantas. Em situações extremas, as perdas podem chegar a 60% da produção, número que ameaça diretamente o desempenho nacional e a renda de milhares de agricultores.
Diante da gravidade do cenário, especialistas em fitossanidade recomendam o fortalecimento de estratégias de manejo integrado de pragas (MIP), com foco na diversificação de métodos e no planejamento de longo prazo. A adoção isolada de produtos químicos tem se mostrado menos eficaz frente à resistência desenvolvida pela praga, exigindo um olhar técnico mais completo e contínuo.
Um dos pilares do controle começa ainda antes do plantio. A dessecação da área, realizada com ao menos 30 dias de antecedência, reduz a disponibilidade de plantas hospedeiras voluntárias e limita a sobrevivência das lagartas remanescentes. Já a rotação de culturas se mostra fundamental para quebrar o ciclo de vida do inseto, diminuindo a pressão de infestação em áreas que mantêm o milho como cultura principal por várias safras consecutivas.
Outro ponto crucial está no tratamento das sementes, que deve considerar o uso de defensivos sistêmicos com diferentes modos de ação. Essa abordagem amplia a eficácia de controle nos estágios iniciais e garante maior uniformidade no desenvolvimento das plantas. Aliás, para que a lavoura atinja seu máximo potencial produtivo, é essencial que o controle da praga ocorra desde a emergência das primeiras folhas, evitando danos irreversíveis.
Mesmo após a implantação da lavoura, o monitoramento frequente se mantém indispensável. As intervenções devem ser direcionadas com base em níveis de ação bem definidos, levando em conta a presença de ovos, lagartas pequenas e os sinais visuais de desfolha. Assim, é possível otimizar a aplicação de defensivos e reduzir o risco de resistência cruzada.
Dessa forma, embora o milho brasileiro esteja prestes a atingir patamares históricos, a efetivação desse potencial depende diretamente da capacidade dos produtores em lidar com o desafio representado pela lagarta-do-cartucho. Mais do que um ciclo agrícola, o momento exige decisões técnicas assertivas, planejamento detalhado e, sobretudo, vigilância constante sobre as lavouras.