A dinâmica das exportações brasileiras de café em 2025 revelou um contraste expressivo entre volume e receita. Em agosto, o país embarcou cerca de 3,144 milhões de sacas de 60 quilos, uma queda de 17,5% em comparação com o mesmo mês do ano anterior.
Apesar disso, o setor comemorou uma receita cambial de US$ 1,101 bilhão, resultado que representa um crescimento de 12,7%. O que explica esse paradoxo? A resposta passa por fatores internos, como a menor disponibilidade de grãos nesta safra, e por tensões comerciais externas, como o aumento tarifário imposto pelos Estados Unidos.
A influência do tarifaço americano nas exportações
A imposição de uma tarifa de 50% sobre os cafés brasileiros pelo governo de Donald Trump teve efeito imediato na balança comercial. Tradicionalmente o principal destino do grão nacional, os Estados Unidos deixaram o topo do ranking em agosto, sendo ultrapassados pela Alemanha. As exportações para os americanos caíram para 301 mil sacas, uma retração de 46% em relação a agosto de 2024, enquanto os alemães importaram 414 mil sacas no mesmo período.
Essa mudança de protagonismo no mercado global também trouxe reflexos à Bolsa de Nova York. O café arábica valorizou 29,7% entre o início da vigência da tarifa, em 7 de agosto, e o final do mês. As cotações passaram de US$ 2,978 para US$ 3,861 por libra-peso, movimentadas por um mercado já pressionado por safras menores, mudanças climáticas e especulação financeira.
Receita recorde, mesmo com menor disponibilidade
No acumulado de janeiro a agosto de 2025, o Brasil embarcou 25,323 milhões de sacas, o que representa uma retração de 20,9% em comparação com o mesmo período do ano anterior. No entanto, o montante financeiro obtido atingiu um novo recorde: US$ 9,668 bilhões.
A equação é simples — menos sacas disponíveis, mas mais valorizadas. O desequilíbrio entre oferta e demanda, agravado pela restrição de acesso ao mercado americano, tem puxado os preços para cima e ampliado a rentabilidade por saca.
Quem mais comprou o café brasileiro em 2025
Mesmo com a perda momentânea de posição em agosto, os Estados Unidos ainda lideram a lista de importadores do café nacional no acumulado do ano, com 4,028 milhões de sacas. Na sequência, aparecem Alemanha, com 3,071 milhões, e Itália, com 1,981 milhão. O destaque positivo vai para o Japão, que aumentou suas compras em 15,6%, totalizando 1,671 milhão de sacas — um sinal de reposicionamento estratégico de exportações brasileiras para mercados asiáticos. A Bélgica, por outro lado, reduziu drasticamente suas aquisições em 48,3%.
Arábica segue dominante nas exportações
O café arábica continua sendo o carro-chefe das exportações, representando 79,8% do total no ano, com 20,209 milhões de sacas enviadas ao exterior. Mesmo com essa dominância, houve queda de 13% em comparação ao mesmo período de 2024. Já os cafés da espécie canéfora (conilon e robusta) responderam por 2,570 milhões de sacas. O segmento de café solúvel manteve relevância, com 2,508 milhões, e o industrializado (torrado e moído) contribuiu com 36.700 sacas.
Cafés especiais ganham valor, apesar da queda em volume
Os grãos certificados — seja por sustentabilidade ou por qualidade superior — também acompanharam a tendência geral: queda no volume, alta na receita. Foram 5,1 milhões de sacas exportadas de cafés diferenciados entre janeiro e agosto, 9,3% a menos do que no mesmo período de 2024. Entretanto, o faturamento saltou 54,2%, alcançando US$ 2,178 bilhões. O valor médio por saca desses cafés ficou em US$ 427,05, acima do valor médio de mercado.
Estados Unidos e Alemanha também lideram a lista de destinos desse tipo de produto, seguidos por Bélgica, Holanda e Itália — todos países onde o consumo de cafés especiais vem ganhando força em cafeterias e supermercados premium.
Porto de Santos concentra 80% dos embarques
A logística das exportações manteve o tradicional protagonismo do Porto de Santos, responsável por 80,2% das saídas de café em 2025. Foram 20,310 milhões de sacas embarcadas pelo terminal paulista. O complexo portuário do Rio de Janeiro aparece em segundo lugar, com 4,010 milhões de sacas (15,8% do total), seguido pelo Porto de Paranaguá, com 245.100 sacas (1%).