O recente aumento das tarifas norte-americanas sobre produtos brasileiros abriu espaço para que o agronegócio nacional direcione parte de sua produção a novos mercados.
Entre os mais promissores estão os 22 países que compõem a Liga Árabe, que oferecem condições comerciais mais favoráveis e demonstram crescente interesse por itens como café, carne bovina, açúcar e derivados de ferro e aço.
Tarifas elevadas dos EUA impulsionam mudança de rota
Desde abril, as exportações brasileiras para os Estados Unidos enfrentam uma sobretaxa de 40% sobre a alíquota já existente de 10%, impactando diretamente itens de alto valor agregado do agro. No mercado árabe, porém, as taxas de importação são consideravelmente menores e, em alguns casos, inexistentes — cenário que cria oportunidades imediatas de negociação.
Enquanto o café não torrado chega ao bloco árabe com tarifa zero, por exemplo, nos EUA o mesmo produto é tributado em 50%. O mesmo se repete com a carne bovina congelada, cuja alíquota árabe varia entre zero e 6%, e com o açúcar, que enfrenta até 20% no mundo árabe contra 50% no mercado norte-americano.
Produtos com potencial de crescimento
A reconfiguração comercial favorece itens que já têm presença consolidada nos países árabes e podem ampliar sua fatia de mercado, como o café verde e a carne bovina, além de abrir espaço para produtos ainda pouco explorados na região. Entre eles estão semimanufaturados de ferro e aço, madeira de coníferas e máquinas pesadas como bulldozers e carregadoras, cuja demanda no bloco árabe é expressiva, mas as importações brasileiras ainda são tímidas.

No caso do café, a diferença tarifária somada ao alto consumo em países como Arábia Saudita, Kuwait e Argélia cria uma margem significativa para expansão. Já na carne bovina, mercados como Egito, Emirados Árabes Unidos e a própria Arábia Saudita demonstram potencial para absorver volumes maiores, ajudando a reduzir a dependência do comprador norte-americano.
Estratégia para ampliar as vendas
Para aproveitar essa oportunidade, é necessário um alinhamento entre governo, setor produtivo e entidades comerciais. O objetivo é não apenas redirecionar os fluxos de exportação, mas também adaptar os produtos às exigências locais, como a certificação halal, e ampliar a presença em eventos e feiras internacionais no mundo árabe.
A diversificação de compradores, aliada à promoção comercial e à negociação de acordos de livre comércio, pode garantir ao Brasil uma posição mais sólida no abastecimento de alimentos e insumos para a região.
Acordos e parcerias em andamento
Negociações com países como Tunísia, Marrocos, Jordânia, Líbano e com o Conselho de Cooperação do Golfo já estão em curso e podem reduzir ainda mais barreiras tarifárias. Experiências anteriores, como o acordo entre Egito e Mercosul firmado em 2010, mostram que a aproximação formal pode quase dobrar as exportações em poucos anos.
Atualmente, os Emirados Árabes Unidos despontam como um dos parceiros mais receptivos, fortalecendo a percepção de que o momento é favorável para estreitar laços diplomáticos e comerciais.
Potencial de impacto no curto prazo
Embora não haja estimativa oficial de quanto do volume destinado aos Estados Unidos poderá ser absorvido pelo mercado árabe, o setor avalia que alguns produtos podem ganhar espaço rapidamente. Itens como carne bovina e café verde têm demanda imediata e podem gerar resultados já neste ano.
Além disso, a combinação de tarifas mais baixas, crescimento populacional acelerado e alto poder de compra da região reforça o papel do Brasil como fornecedor estratégico para a segurança alimentar do bloco árabe.