A paisagem fria de Cruzeiro do Sul, na região de Lajeado (RS), ganhou um movimento incomum nos últimos dias de agosto: tratores em campo e agricultores semeando milho-verde fora do calendário tradicional. Apesar das geadas e da recomendação técnica de esperar condições mais seguras, parte dos produtores decidiu apostar em um plantio precoce — e, com isso, busca colher ainda em novembro, antes da concorrência se intensificar no mercado.
Essa decisão ousada rompe a lógica habitual do zoneamento agroclimático da região, que estabelece períodos mais seguros para a semeadura. No entanto, em tempos de margens apertadas e de um mercado que valoriza o milho-verde precoce, muitos agricultores consideram que o risco pode valer a pena. O início da entressafra, somado à boa aceitação do produto em feiras e supermercados, tem incentivado essa estratégia de antecipação.
A Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater/RS-Ascar) acompanha o cenário de perto e estima que, nesta primeira fase da nova safra, a área destinada ao milho-verde alcance cerca de 80 hectares, distribuída em dois a três ciclos de cultivo até o fim do período produtivo. Embora pequena se comparada a culturas mais extensivas, essa área representa uma movimentação estratégica para pequenos e médios agricultores da região, que veem no milho-verde uma oportunidade de renda recorrente com ciclo relativamente curto.
O solo já começou a ser preparado para receber as sementes, mesmo em áreas onde o risco de geada ainda preocupa. A aposta dos produtores está na rápida germinação e no crescimento acelerado proporcionado por híbridos modernos, adaptados a variações climáticas moderadas. Embora o frio ainda possa interferir nas primeiras fases de desenvolvimento, a previsão de temperaturas em elevação reforça a expectativa de uma boa germinação, desde que o manejo seja adequado.
Em Cruzeiro do Sul, o milho-verde é mais do que uma cultura complementar — é parte da tradição agrícola local e mantém forte presença nos circuitos de venda direta ao consumidor. A possibilidade de iniciar a colheita em novembro é atrativa porque permite abastecer o mercado em um período de menor oferta nacional, o que costuma gerar preços mais elevados e menor concorrência.