O milho se consolidou como um dos pilares da agricultura brasileira. Presente em diferentes biomas e ciclos produtivos, ele se destaca não apenas pelo volume colhido anualmente, mas também pela capacidade de adaptação frente a desafios como a instabilidade climática. A projeção da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) para a safra 2024/2025 ultrapassa as 126 milhões de toneladas, reflexo direto do avanço tecnológico no campo, com o uso de sementes geneticamente modificadas, ampliação da segunda safra e maior adesão ao sistema de plantio direto.
Entretanto, mesmo diante desses avanços, uma barreira persistente ainda preocupa o produtor: o controle de plantas daninhas nos estágios iniciais do desenvolvimento. Essa fase, especialmente os primeiros 10 a 15 dias após a emergência do milho, é considerada crítica para a definição do rendimento da lavoura. Qualquer competição por luz, água ou nutrientes nesse período pode comprometer o potencial da cultura de forma significativa.
A nanotecnologia como aliada da lavoura
Pensando em formas mais seguras e eficazes de enfrentar essa ameaça, pesquisadores brasileiros voltaram suas atenções para a nanotecnologia. Em um estudo recente conduzido pelo Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Nanotecnologia para Agricultura Sustentável (INCT NanoAgro), a atrazina – um dos herbicidas mais utilizados no controle de plantas infestantes – foi submetida a um processo de nanoencapsulação, com resultados promissores.
A pesquisa comparou a ação da atrazina em sua forma tradicional com novas formulações nanoestruturadas, utilizando materiais como zeína, quitosana e poli(ε-caprolactona) – todos de origem biodegradável e obtidos a partir de resíduos agroindustriais. O objetivo era ampliar o efeito do princípio ativo sem comprometer a fisiologia da planta ou sua capacidade fotossintética.
Resultados que apontam para um novo modelo de aplicação
Os testes foram realizados em ambiente controlado, simulando condições de cultivo típicas. As plantas tratadas com a atrazina nanoencapsulada apresentaram comportamento diferenciado, especialmente na resposta ao estresse oxidativo. Foi observado um aumento expressivo na atividade de enzimas antioxidantes, o que indica uma maior capacidade de autodefesa da planta diante do impacto do herbicida.
Outro ponto relevante foi a constatação de que qualquer impacto negativo sobre a fotossíntese foi temporário. Em um intervalo de 14 dias após a aplicação, as plantas demonstraram recuperação total, o que reforça a segurança fisiológica do novo método.
Mais do que uma inovação pontual, o estudo evidencia o potencial da nanoencapsulação como ferramenta estratégica para o manejo de plantas daninhas. Ao proteger o milho em sua fase mais vulnerável, a técnica contribui diretamente para o aumento da produtividade sem elevar os riscos ambientais ou fisiológicos da cultura.
Sustentabilidade e eficiência no mesmo pacote
Além dos ganhos em desempenho, há um importante componente ambiental na pesquisa. A utilização de nanocápsulas derivadas de insumos renováveis e a possibilidade de aplicar menores doses de herbicida — com maior eficácia — apontam para uma agricultura mais sustentável. Em um cenário cada vez mais exigente quanto ao uso racional de insumos químicos, esse tipo de solução ganha destaque não apenas entre produtores, mas também entre pesquisadores e formuladores de políticas públicas.