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Nova cigarrinha-da-raiz desafia lavouras de cana-de-açúcar no Brasil

Descoberta da espécie Mahanarva diakantha revela por que defensivos tradicionais falharam e abre caminho para um controle mais preciso das pragas na cultura canavieira.

by Claudio P. Filla
20 de novembro de 2025
in Agro
Mahanarva spectabilis em vista lateral. Crédito: Rodrigo Souza Santos Samara Araújo da Silva

Mahanarva spectabilis em vista lateral. Crédito: Rodrigo Souza Santos Samara Araújo da Silva

Resumo

• A cana-de-açúcar é pilar da economia brasileira, e a descoberta de uma nova cigarrinha-da-raiz ajuda a explicar falhas recentes no controle de pragas nos canaviais.
• Pesquisadores da Unesp e da PUC-RS identificaram a espécie Mahanarva diakantha por meio de análises genéticas e morfológicas, diferenciando-a de outras cigarrinhas conhecidas.
• A descrição da nova espécie mostra que defensivos usados para M. fimbriolata e M. spectabilis podem não agir da mesma forma sobre M. diakantha, exigindo revisão das estratégias de manejo.
• O controle biológico com o fungo Metarhizium anisopliae segue como ferramenta central, mas será necessário testar sua eficácia específica contra a nova cigarrinha e ajustar técnicas de aplicação.
• A pesquisa integra universidades, centros como o Cepenfito e o setor produtivo para enfrentar não só M. diakantha, mas também ameaças como a síndrome do murchamento da cana e o bicudo-da-cana.

A cana-de-açúcar ocupa há décadas um lugar estratégico na economia brasileira e na paisagem agrícola do país. Desde 2010, o Brasil colhe em torno de 700 milhões de toneladas por ano, volume que alimenta diferentes cadeias produtivas. O açúcar mantém o país na liderança das exportações mundiais, enquanto o etanol abastece a matriz de biocombustíveis e o bagaço se transforma em energia nas usinas. Em 2020, somente as exportações do setor movimentaram perto de US$ 8,7 bilhões, o que ajuda a dimensionar o tamanho da responsabilidade de proteger essa cultura contra doenças e pragas.

Em um cenário de tamanha relevância econômica, qualquer ameaça fitossanitária ganha contornos de urgência. Entre os inimigos mais conhecidos dos canaviais, a cigarrinha-da-raiz sempre ocupou posição de destaque. Esses pequenos insetos de tonalidade marrom-avermelhada se alimentam da seiva da planta e, nesse processo, inoculam toxinas que favorecem a queima das folhas e reduzem o teor de sacarose. Em situações de infestação intensa, as perdas podem chegar a cerca de 36 toneladas de cana por alqueire, comprometendo diretamente a produtividade e a rentabilidade do produtor.

Quando a praga conhecida deixa de responder aos defensivos

Durante muitos anos, duas espécies eram apontadas como as principais representantes da cigarrinha-da-raiz em canaviais brasileiros: Mahanarva fimbriolata e Mahanarva spectabilis. Elas orientavam o manejo, a escolha de defensivos e as estratégias de controle em campo. Entretanto, com o passar do tempo, algumas usinas e empresas agrícolas passaram a notar algo que não se encaixava nas experiências anteriores. Mesmo utilizando os produtos recomendados, as populações de insetos persistiam e continuavam causando danos às plantas.

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Foi nesse contexto que produtores procuraram o Instituto de Biociências da Unesp, em Rio Claro, em busca de respostas mais refinadas. Docente do departamento de Biologia Geral e Aplicada, Diogo Cavalcanti Cabral-de-Mello já acumulava mais de uma década de atuação em um laboratório voltado à evolução genômica de insetos. A especialização na diferenciação genética entre espécies fez com que, cerca de dez anos atrás, ele passasse a ser acionado por empresas que suspeitavam de resistência aos defensivos químicos usados rotineiramente.

Os produtos empregados nas lavouras deixaram de apresentar o desempenho esperado. Em um primeiro momento, cogitou-se que as cigarrinhas tivessem desenvolvido resistência às moléculas aplicadas. Porém, uma hipótese alternativa ganhou força: talvez os insetos que apareciam nas áreas não fossem exatamente os mesmos que a literatura apontava como alvo principal. Amostras coletadas em canaviais foram então encaminhadas para um grupo de pesquisadores da PUC-RS especializado em taxonomia de insetos, o que deu início a uma investigação conjunta.

Da suspeita à descrição de uma nova espécie

A partir daí, equipes da Unesp e da PUC-RS passaram a trabalhar em duas frentes complementares. De um lado, a análise morfológica, conduzida pelos pesquisadores Andressa Paladini e Gervásio Silva Carvalho, buscava identificar diferenças sutis na anatomia dos insetos. De outro, Cabral-de-Mello coordenava a etapa genética, comparando o DNA das amostras suspeitas com o de espécies já conhecidas de cigarrinha-da-raiz.

Mais de 300 indivíduos coletados entre 2012 e 2015 em diferentes usinas de cana-de-açúcar foram avaliados. O ponto de partida foi o uso de um marcador de DNA mitocondrial, ferramenta bastante útil para distinguir espécies aparentadas. Em uma espécie, esse marcador tende a apresentar um padrão relativamente conservado, com pequenas variações. Em grupos distintos, as diferenças se tornam maiores, permitindo separar um conjunto de indivíduos de outro. Foi justamente esse padrão que emergiu das análises: os insetos amostrados não se encaixavam plenamente no perfil genético de M. fimbriolata nem de M. spectabilis.

Ainda assim, em insetos, a diversidade é tão grande que não existe um valor fixo de divergência genética para decretar, por si só, a existência de uma nova espécie. Por isso, os dados moleculares precisaram ser cruzados com informações morfológicas detalhadas. A taxonomia integrativa, que reúne múltiplas linhas de evidência, foi essencial para dar robustez à proposta. Ao examinar atentamente a genitália dos machos, Andressa Paladini identificou o detalhe que faltava: uma porção da estrutura genital apresentava forma bifurcada e pontiaguda, enquanto nas espécies já conhecidas o formato era quadrangular e não bifurcado.

Essa característica anatômica, somada ao padrão genético distinto, sustentou a descrição de uma nova espécie, batizada de Mahanarva diakantha – termo que remete à ideia de “dois espinhos”. A descoberta foi publicada no periódico científico Bulletin of Entomological Research, da Universidade de Cambridge, e marca um novo capítulo no entendimento das pragas associadas à cultura da cana.

Por que a descoberta muda o manejo da cana-de-açúcar

Identificar que parte das cigarrinhas presentes nos canaviais pertence a uma espécie diferente não é apenas um exercício acadêmico. Na prática, é o ponto de partida para reavaliar as estratégias de controle e evitar que falhas sejam atribuídas, de forma simplista, à resistência generalizada. Produtos formulados para agir contra uma espécie específica podem ter eficácia muito distinta quando aplicados sobre outra, mesmo que ambas sejam próximas e compartilhem o mesmo ambiente.

Nesse sentido, a descrição de M. diakantha ajuda a explicar por que algumas usinas encontravam dificuldade para controlar a praga com defensivos tradicionalmente recomendados. Após a publicação do estudo, Andressa Paladini revisitou coleções entomológicas da Universidade Federal do Paraná, onde atualmente leciona, e encontrou registros da década de 1960 que já continham exemplares da nova espécie. Eles haviam sido classificados como M. fimbriolata, o que evidencia há quanto tempo a cigarrinha recém-descrita circula discretamente pelos sistemas produtivos.

Os próximos passos envolvem compreender aspectos biológicos e populacionais de M. diakantha, como taxas reprodutivas, dinâmica das populações e diversidade genética em diferentes regiões produtoras. Também será importante analisar amostras mais recentes, já que os dados utilizados na primeira etapa do estudo se referem ao período entre 2012 e 2015. Desde então, o cultivo de cana-de-açúcar passou por mudanças significativas, tanto em tecnologia quanto em manejo.

Controle biológico e avaliação do impacto da nova praga

Ainda que a descoberta de uma nova cigarrinha possa soar preocupante, o cenário não é necessariamente alarmante. Odair Aparecido Fernandes, professor da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias da Unesp, câmpus de Jaboticabal, e coordenador do Centro de Pesquisa em Engenharia – Fitossanidade em Cana-de-Açúcar (Cepenfito), avalia que M. diakantha não deve, a princípio, representar um risco desproporcional às lavouras. Ele ressalta que o controle biológico tem se mostrado bastante eficiente no manejo das cigarrinhas-da-raiz de forma geral.

Hoje, o método mais utilizado é a aplicação do fungo entomopatogênico Metarhizium anisopliae. Produzido em laboratório, em geral sobre grãos de arroz, o fungo é posteriormente separado, formulado e misturado com água para ser pulverizado sobre as plantas. Por ser seletivo, ataca apenas insetos, sem prejuízo para a cana ou para o ser humano. Fernandes destaca esse modelo como um dos exemplos mais expressivos, em escala global, de controle biológico bem-sucedido em larga área.

Mesmo assim, a presença de M. diakantha exige uma reavaliação cuidadosa. Será necessário verificar se o fungo apresenta a mesma eficiência sobre a nova espécie e se há diferenças na suscetibilidade em relação às outras cigarrinhas. A integração de Cabral-de-Mello ao Cepenfito reforça essa agenda, já que o pesquisador pretende colaborar em estudos voltados ao controle de pragas com base em evidências genômicas. Ele também orienta um projeto de doutorado dedicado à montagem dos genomas das três espécies de cigarrinha-da-raiz analisadas no estudo.

Essa abordagem, que combina ciência básica e aplicação direta no campo, busca entender como a separação evolutiva entre as espécies – possivelmente ocorrida nos últimos 100 mil anos – se reflete na resposta a diferentes medidas de controle. O sequenciamento do genoma, como destaca Mello, abre espaço para uma agricultura de precisão no manejo de insetos, permitindo enxergar variações finas e desenvolver técnicas mais personalizadas para cada praga.

A força da colaboração entre universidades e setor produtivo

Um aspecto central dessa história é a forma como a ciência acadêmica se conectou às demandas reais do campo. Cabral-de-Mello enfatiza que os resultados alcançados só foram possíveis graças à cooperação entre os grupos da Unesp, da PUC-RS e o setor privado. Empresas agrícolas trouxeram o problema, cederam amostras e mantiveram o diálogo com os pesquisadores. As equipes universitárias, por sua vez, somaram expertises em genética, morfologia e taxonomia para chegar a um diagnóstico preciso.

O próprio Cepenfito simboliza essa articulação. Financiado pela Fapesp em parceria com o Grupo São Martinho, o centro reúne projetos voltados à saúde vegetal e ao manejo de pragas na cana-de-açúcar, muitos deles desenvolvidos em colaboração direta com indústrias sucroenergéticas. Ao todo, são dezenas de iniciativas que buscam respostas para questões práticas, indo desde o aperfeiçoamento do controle biológico até o uso de ferramentas avançadas de monitoramento em campo.

Outras ameaças que rondam a cultura da cana

Enquanto a nova cigarrinha ganha protagonismo nas discussões científicas, a cana-de-açúcar continua enfrentando outros desafios importantes. Fernandes chama atenção para duas grandes ameaças que vêm preocupando pesquisadores e produtores. A primeira é a chamada síndrome do murchamento da cana, fenômeno complexo em que fatores abióticos, como seca e extremos climáticos, se somam a agentes bióticos, como fungos e pragas. O resultado é a descoloração do colmo, perda de ceras, redução do teor de água e, finalmente, o murchamento da planta. Em casos severos, a safra pode ser reduzida em até 40%.

A segunda ameaça é o bicudo-da-cana, um besouro que se abriga no solo e nas partes internas do caule, alimentando-se dos tecidos vegetais. Sua presença, favorecida pela manutenção da palha no solo após a colheita mecanizada, pode causar perdas de cerca de 25 toneladas por hectare. A prática de deixar a palhada no campo ajuda a conservar a umidade e proteger o solo, mas, ao mesmo tempo, cria um ambiente mais favorável à sobrevivência da praga, exigindo um equilíbrio delicado entre conservação e fitossanidade.

Para o Cepenfito, a resposta passa por estreitar ainda mais o diálogo entre pesquisa e setor produtivo. A escassez de informações consolidadas sobre alguns desses problemas torna o desenvolvimento de estratégias de manejo um desafio permanente. Ao investir em estudos de longo prazo, em parcerias com usinas e produtores, o centro busca construir soluções que atendam às demandas das principais regiões canavieiras do Centro-Sul e do Sudeste, ao mesmo tempo em que incorpora novas descobertas, como a de Mahanarva diakantha, em uma visão mais ampla de proteção da cultura.

Assim, a identificação dessa nova cigarrinha não é um episódio isolado, mas parte de um movimento mais amplo de refinamento do olhar científico sobre as pragas da cana-de-açúcar. Ao revelar o que antes passava despercebido, a pesquisa amplia as ferramentas disponíveis para que o produtor siga colhendo uma cultura que é, há muito tempo, um dos pilares da agroindústria brasileira.

  • Claudio P. Filla

    Sou Cláudio P. Filla, formado em Comunicação Social e Mídias Sociais. Atuo como Redator e Curador de Conteúdo do Agronamidia. Com o apoio de uma equipe editorial de especialistas em agronomia, agronegócio, veterinária, desenvolvimento rural, jardinagem e paisagismo, me dedico a garantir a precisão e a relevância de todas as publicações.

    E-mail: [email protected]

Via: Unesp

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