Em meio à rotina dos produtores rurais, um inimigo de poucas gramas e enorme impacto econômico avança de forma silenciosa: a formiga-cortadeira. Presente em praticamente todas as regiões do Brasil, essa praga é capaz de comprometer lavouras e florestas inteiras, causando perdas que, segundo a Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri), podem chegar a 40% no volume de madeira em cultivos de eucalipto e pinus.
Em mudas jovens, a gravidade é ainda maior: ataques sucessivos podem resultar em perdas totais, obrigando ao replantio e elevando significativamente os custos de produção.
Entendendo a praga e seu comportamento
As formigas-cortadeiras pertencem principalmente aos gêneros Atta (saúvas) e Acromyrmex (quenquéns). Embora o comportamento de cortar folhas, flores e brotos seja visível, poucas pessoas sabem que o objetivo não é o consumo direto do material vegetal. Conforme explica o engenheiro florestal Rogério Almeida, especialista em manejo integrado de pragas, o corte serve para cultivar um fungo no interior do ninho, que é a verdadeira fonte de alimento da colônia.

Visualmente, as saúvas tendem a ser maiores e constroem formigueiros com grandes montículos de terra, facilmente identificáveis na superfície. Já as quenquéns, menores, costumam ter ninhos mais discretos, muitas vezes camuflados pela vegetação. “A correta identificação da espécie é essencial para definir o método de controle mais eficiente e seguro”, reforça Rogério.
Impactos nas lavouras, florestas e pastagens
O ataque das formigas-cortadeiras afeta de forma ampla a produção agrícola e florestal. Em árvores adultas, a desfolha constante reduz a taxa de fotossíntese, desacelera o crescimento e compromete a qualidade da madeira. Já em áreas de pastagem, a infestação também preocupa: dez colônias por hectare são capazes de consumir mais de 50 quilos de capim por dia, reduzindo a disponibilidade de alimento para o gado e impactando diretamente a produção pecuária.
Além disso, a presença da praga em áreas de reflorestamento representa um desafio de longo prazo. Em projetos florestais, a perda de mudas e o atraso no crescimento das árvores afetam não apenas o volume de produção, mas também o ciclo de corte e a rentabilidade da propriedade.
Estratégias de controle e manejo integrado
De acordo com a engenheira agrônoma Carla Menezes, especialista em proteção vegetal, o sucesso no controle da formiga-cortadeira começa pelo monitoramento constante. Isso significa inspecionar a área regularmente, especialmente no início da estação chuvosa, período de maior atividade das formigas. “Identificar carreiros e entradas de formigueiros ainda na fase inicial da infestação facilita a eliminação e reduz os custos”, explica.
O manejo pode incluir métodos culturais, como o preparo adequado do solo antes do plantio para destruir ninhos jovens, e o uso de barreiras físicas em mudas recém-plantadas. Em áreas extensas, as iscas formicidas granuladas continuam sendo a estratégia mais utilizada. Elas devem ser aplicadas próximas aos carreiros ativos, em dias secos e de temperatura amena, respeitando as doses indicadas pelo fabricante.
Em casos específicos, métodos como termonebulização e aplicação de inseticidas em pó diretamente nos olheiros podem ser adotados, especialmente em formigueiros grandes ou de difícil acesso. Contudo, Carla reforça que “o uso de defensivos químicos deve sempre seguir normas de segurança, evitando riscos ao trabalhador e ao meio ambiente”.
Prevenção como aliada do produtor
A prevenção é parte essencial no combate às formigas-cortadeiras. Manter a área de cultivo livre de plantas daninhas — que servem como alimento alternativo — ajuda a reduzir a atratividade para novas colônias. Da mesma forma, preservar faixas de vegetação nativa nas bordas da propriedade favorece o equilíbrio ecológico e mantém inimigos naturais da praga.
O manejo integrado, combinando métodos preventivos, monitoramento e diferentes técnicas de controle, é considerado a abordagem mais sustentável e eficaz a longo prazo. Isso não apenas diminui o impacto econômico da praga, mas também preserva a saúde ambiental da propriedade, garantindo que lavouras e florestas alcancem seu pleno potencial produtivo.