No Brasil, a produção de abacate é historicamente valorizada tanto pelo valor nutricional do fruto quanto por sua versatilidade no mercado, mas um fator ainda pouco explorado tem se mostrado decisivo: a ação das abelhas nativas na polinização dos abacateiros. A floração dos abacateiros é um fenômeno curioso e complexo. Cada árvore pode produzir milhares de flores, mas apenas uma fração mínima delas, cerca de 1%, chega a se transformar em fruto.
Esse dado, aparentemente desanimador, muda de figura quando se considera a presença ativa de polinizadores eficientes — especialmente as abelhas nativas sem ferrão, como a jataí e a mandaguari. Essas abelhas possuem comportamento altamente adaptado às particularidades do abacateiro. A flor dessa árvore passa por dois estágios distintos de abertura: um como flor feminina e outro como flor masculina, o que praticamente elimina as chances de autopolinização. Assim, a presença de polinizadores que realizam visitas cruzadas entre plantas em diferentes fases se torna essencial para a frutificação.
Polinização cruzada: a dança sincronizada entre flor e abelha
A natureza opera com precisão. Os abacateiros são divididos em dois grupos — A e B —, cuja floração ocorre em turnos alternados. É exatamente essa divisão que exige a prática do plantio consorciado de variedades para maximizar a eficiência da polinização. As abelhas nativas, com seus hábitos de voo curtos e visita sequencial entre flores vizinhas, desempenham um papel estratégico nesse processo.
Diferente de abelhas exóticas, as nativas estão mais bem adaptadas ao bioma brasileiro, enfrentando com mais resiliência as condições ambientais locais. Elas voam mesmo sob temperaturas mais baixas ou em dias nublados, e seu corpo pequeno e ágil permite visitar mais flores em menos tempo, potencializando a fecundação e, por consequência, a produtividade dos pomares.
Cultivo sustentável: flores, biodiversidade e renda no campo
Além de favorecerem a produção, as abelhas nativas também contribuem para a preservação ambiental. Ao manter áreas com vegetação nativa ao redor dos cultivos, os agricultores não apenas oferecem refúgio para os polinizadores, como também equilibram o ecossistema local, reduzindo a necessidade de insumos químicos e incentivando práticas agroecológicas.
Essa integração entre meliponicultura e agricultura familiar não é apenas benéfica, mas essencial. Ambientes diversificados, com múltiplas espécies florais e em diferentes épocas do ano, garantem alimento constante para as abelhas e promovem um ciclo virtuoso entre planta, inseto e solo. Mais do que uma estratégia técnica, trata-se de um gesto de respeito à natureza e aos seus ciclos.