O impacto das inundações sobre o solo vai além da água visível na superfície. Nas áreas agrícolas, esses eventos extremos comprometem silenciosamente a estrutura física da terra, sua atividade biológica e, sobretudo, a concentração de nutrientes essenciais para o desenvolvimento das culturas. Devolver a fertilidade a essas regiões exige mais do que tempo: requer ação técnica, conhecimento e estratégias bem definidas, com papel de destaque para os fertilizantes.
Segundo Valter Casarin, coordenador geral e científico da iniciativa Nutrientes para a Vida (NPV), o primeiro passo após a retirada das águas é compreender a dimensão do dano. “As inundações em áreas agrícolas causam perdas significativas de nutrientes, degradação da estrutura do solo e comprometimento da atividade biológica”, aponta. Por isso, a recuperação precisa envolver uma abordagem ampla, que una insumos corretivos, estímulo à biota do solo e práticas agronômicas resilientes.
Restauração começa com diagnóstico técnico e correção do pH
O solo que foi alagado precisa, antes de tudo, ser estudado. Análises químicas, físicas e biológicas permitem entender o que foi perdido ou alterado. É com base nesses dados que se define a aplicação ideal de fertilizantes e corretivos. “A primeira etapa a ser estabelecida é a correção do pH do solo pelo uso de calcário, visando neutralizar a acidez”, explica Casarin. A acidez excessiva é um dos fatores que limitam a absorção de nutrientes, e por isso a calagem é essencial.

Além do calcário, o gesso agrícola pode ser necessário em áreas com compactação ou excesso de sódio, dois efeitos comuns da ação prolongada da água. A partir daí, inicia-se a reposição nutricional — com Nitrogênio, Fósforo, Potássio, além de micronutrientes como Zinco, Manganês, Cobre e Boro. Essa combinação devolve ao solo os elementos que sustentam a produtividade.
Microrganismos e fertilizantes orgânicos reconstroem a vida subterrânea
Mas não basta devolver nutrientes. É preciso reativar a vida que habita o solo. A microbiota natural também sofre com o alagamento, e sua ausência impacta diretamente a fertilidade. “Com objetivo de estimular a biota do solo, podem ser aplicados alguns microrganismos como Azospirillum, Bacillus e Trichoderma”, recomenda o especialista.
Nesse processo, fertilizantes orgânicos, como compostos e estercos bem curtidos, ajudam a melhorar a estrutura física do solo e sua capacidade de reter água. Aliás, o uso desses materiais contribui não apenas para a nutrição das plantas, mas também para devolver porosidade e arejamento ao solo, elementos vitais para o enraizamento saudável.
Sustentabilidade como estratégia para evitar novos danos
Além da correção química e biológica, é preciso pensar na prevenção. Com o aumento da frequência das chuvas extremas, provocado pelas mudanças climáticas, o campo exige estratégias de longo prazo. Nesse sentido, Casarin destaca a importância da rotação de culturas, do plantio direto e da cobertura vegetal contínua. Essas ações ajudam a manter a integridade do solo, evitando erosão e facilitando a infiltração da água da chuva.
“O uso de fertilizantes, combinado com corretivos e práticas sustentáveis, permite restaurar a fertilidade e garantir a continuidade da produção agrícola”, afirma o pesquisador. Para ele, enfrentar os desafios impostos pelos eventos climáticos exige planejamento e conhecimento técnico. “Investir em estratégias resilientes é fundamental para enfrentar os desafios impostos pelas mudanças climáticas e eventos extremos.”
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