O que antes era sinônimo de devastação ambiental começa, pouco a pouco, a se tornar símbolo de sustentabilidade e prosperidade. No litoral do Paraná, famílias agricultoras vêm substituindo a exploração predatória do palmito-juçara — espécie nativa da Mata Atlântica e ameaçada de extinção — pelo cultivo da pupunha (Bactris gasipaes), uma palmeira exótica que se adapta perfeitamente ao clima e ao solo da região.
Esse movimento, que teve início no início dos anos 2000, amadureceu com o tempo e se consolidou como uma alternativa viável para gerar renda, diversificar a produção agrícola e, sobretudo, conservar a floresta em pé. Aliás, o impacto socioeconômico dessa transição já pode ser visto com clareza: em 2024, o Valor Bruto da Produção (VBP) da cadeia da pupunha atingiu impressionantes R$ 190 milhões, somando o valor direto gerado no campo ao que é adicionado pela agroindústria.
Agricultura familiar impulsionada pelo palmito sustentável
A pujança do setor reflete a adoção de técnicas modernas de cultivo, como espaçamento adequado entre mudas, controle biológico de pragas, adubação balanceada e boas práticas de manejo do solo. Graças à difusão dessas tecnologias, a área plantada com pupunha no Paraná cresceu exponencialmente: saltou de 1.750 hectares em 2015 para 3.200 hectares em 2024, um aumento superior a 80%.
Esse avanço também representa mais oportunidades no campo. O número de pequenos produtores engajados na atividade praticamente dobrou na última década, alcançando a marca de 1.200 agricultores familiares. Além disso, a produção deu um salto expressivo: se no ano 2000 havia menos de 100 mil plantas em cultivo, hoje já são mais de 16 milhões de indivíduos plantados, moldando uma nova paisagem agrícola na região.
Uma cultura que oferece retorno rápido e contínuo
Um dos principais atrativos da pupunha para os agricultores está na sua capacidade de rebrotar após o corte, o que permite colher o palmito por vários anos consecutivos a partir da mesma planta. Em média, o ciclo produtivo se estende por até 15 anos, com início das colheitas a partir de apenas 18 meses após o plantio.
Além disso, o palmito extraído da pupunha apresenta diferenciais comerciais importantes: tem sabor suave, textura macia e não escurece após o corte, o que o torna ideal para o mercado de conservas e pratos frescos. A produtividade média atinge 4.000 hastes por hectare, com valor médio de venda em torno de R$ 3,70 por unidade — o que garante boa rentabilidade por área cultivada, especialmente em comparação com outras culturas convencionais.
Geração de empregos e fortalecimento da agroindústria local
Com o aumento da produção no campo, cresceu também a cadeia de processamento e distribuição. Hoje, 13 agroindústrias atuam no litoral do Paraná com foco no beneficiamento do palmito de pupunha, movimentando não só o mercado regional como também abastecendo outras regiões do Brasil.
Esse crescimento ajuda a manter cerca de 1.600 empregos diretos, número que sobe ainda mais ao incluir os postos gerados nas áreas de transporte, embalagens, comercialização e logística. A permanência das famílias no campo, o estímulo à economia local e a geração de renda contínua são efeitos diretos dessa atividade que alia produtividade, sustentabilidade e conservação ambiental.