A madeira, quando bem tratada e aproveitada na propriedade rural, pode se tornar um recurso estratégico de longa duração, com impactos positivos tanto na economia da fazenda quanto na preservação ambiental. Pensando nisso, a Embrapa Pecuária Sul, em parceria com a Universidade Federal de Pelotas (UFPel), lançou uma ferramenta prática e acessível para produtores rurais: uma planilha digital que calcula o custo completo do tratamento da madeira e, de forma complementar, ainda permite estimar o potencial de sequestro de carbono gerado pelo manejo florestal.
A proposta da tecnologia é facilitar o planejamento do uso da madeira produzida no próprio imóvel rural, considerando variáveis técnicas, custos operacionais e a durabilidade esperada do material. Com ela, o produtor pode projetar gastos e tomar decisões mais sustentáveis — tanto no aspecto econômico quanto ambiental.
Do cálculo ao manejo: como funciona a ferramenta
A planilha foi pensada para atender desde pequenos até médios produtores que utilizam madeira em atividades rotineiras da propriedade, como manutenção de cercas, currais, galpões e estruturas auxiliares. Ao inserir informações básicas sobre o volume de madeira a ser tratado, o tipo de tratamento utilizado e a origem da matéria-prima, o sistema já apresenta automaticamente o custo por peça final, considerando insumos, mão de obra, energia e perdas no processo.
Um dos métodos sugeridos pela Embrapa para aplicação com a planilha é a substituição de seiva — uma técnica relativamente simples que permite o tratamento do material utilizando produtos hidrossolúveis. A grande vantagem está na autonomia que o produtor rural passa a ter, já que consegue calcular com precisão quanto produto será necessário, evitando desperdícios e reduzindo custos de aquisição.
Além disso, a ferramenta permite que o cálculo do custo de produção da madeira — caso o produtor mantenha seu próprio plantio florestal — seja integrado ao custo do tratamento. Isso significa que é possível visualizar o valor final por poste, estaca ou trave, por exemplo, incluindo desde a muda plantada até o produto final pronto para uso.
Durabilidade, economia e menor impacto ambiental
Tratar a madeira in loco pode representar uma economia substancial na rotina da propriedade. Em um cenário onde as madeiras nativas de alta durabilidade — como guajuvira e angico vermelho — estão cada vez mais escassas, o eucalipto passou a ser a principal matéria-prima para mourões e estruturas de contato com o solo. No entanto, a madeira jovem de eucalipto é naturalmente mais suscetível à ação de fungos, umidade e pragas, exigindo cuidados extras para resistir ao tempo.
A planilha também traz uma projeção realista da durabilidade da madeira tratada. Peças que antes duravam apenas dois ou três anos podem ultrapassar uma década com o tratamento adequado, alcançando até 15 anos de vida útil em contato direto com o solo. Esse prolongamento reduz a necessidade de reposição frequente, impactando diretamente nos custos com reposição e transporte.
Além dos ganhos econômicos, a ferramenta contribui com práticas mais alinhadas à conservação ambiental. O uso de madeira própria, tratada de forma segura, diminui a pressão sobre florestas nativas e pode ajudar o produtor a mensurar — ainda que de forma estimada — o potencial de sequestro de carbono que sua área reflorestada pode proporcionar. Essa estimativa oferece novos caminhos para quem deseja integrar práticas de baixo carbono na gestão da fazenda, de olho no futuro da agropecuária sustentável.