O início do ciclo agrícola 2025/2026 já apresenta os primeiros sinais de movimentação no crédito rural, revelando um cenário de leve retração nas liberações, mas com fundamentos financeiros sólidos e ampla programação de recursos para os próximos meses. Entre julho e agosto, foram efetivamente concedidos R$ 81,11 bilhões, resultado que, embora represente um recuo em relação ao mesmo período do ciclo anterior, mostra estabilidade ao se considerar os valores já contratados, mas ainda não liberados.
Essa distinção entre concessão e contratação é essencial para compreender o desempenho do crédito rural. Enquanto o desembolso efetivo no bimestre somou R$ 81,11 bilhões — com R$ 33,72 bilhões destinados ao custeio, R$ 4,48 bilhões para investimento, R$ 4,36 bilhões em comercialização, R$ 5,36 bilhões voltados à industrialização e R$ 33,19 bilhões oriundos de CPRs —, a soma com os contratos firmados e pendentes de liberação eleva o total para R$ 99,08 bilhões. Isso coloca o desempenho praticamente em linha com o registrado no mesmo intervalo da safra anterior, que foi de R$ 100,81 bilhões, representando uma variação negativa de apenas 1,75%.
Como funcionam os recursos: controlados e livres
A engrenagem que move o Plano Safra está dividida entre recursos controlados e livres, com impactos diretos nas condições de crédito oferecidas aos produtores. Dos R$ 516 bilhões programados para a safra 2025/2026, cerca de R$ 174,6 bilhões — o equivalente a 34% — são controlados, ou seja, operam com taxas pré-fixadas e subsidiação pública.
Esse grupo abrange diversas fontes, como os Recursos Obrigatórios de depósitos à vista, os Fundos Constitucionais de Financiamento (FNO, FNE e FCO), o Funcafé, e os recursos equalizados, provenientes de fontes como poupança rural, LCAs, FAT, recursos ordinários do BNDES e aportes diretos das instituições financeiras. Especificamente para médios e grandes produtores, a programação de recursos equalizados soma R$ 113,8 bilhões, sendo R$ 64,25 bilhões voltados ao custeio e R$ 49,53 bilhões ao investimento. A equalização é viabilizada por meio de R$ 3,9 bilhões em subvenção do Tesouro Nacional, que cobre a diferença entre o custo da fonte e a taxa final cobrada do produtor.
Expansão das CPRs e o papel dos recursos livres
O crédito rural avança também por vias menos reguladas, como os recursos livres, que se dividem em direcionados e não direcionados. Os primeiros possuem aplicação obrigatória no setor agropecuário, a exemplo da poupança rural (com 70% da captação voltada ao agro) e das LCAs (com 60% das emissões). Essas modalidades podem ser aplicadas em operações de custeio, investimento, comercialização e industrialização ou na aquisição de Cédulas de Produto Rural (CPR).
No ciclo atual, o financiamento via CPR atingirá R$ 188,53 bilhões, sendo R$ 179,43 bilhões referentes à aquisição de CPRs por instituições financeiras no cumprimento de exigibilidades das LCAs, e R$ 9,1 bilhões relacionados às obrigações vinculadas à poupança rural. Já os recursos livres não direcionados, que respondem por R$ 27 bilhões, operam com taxas de mercado e representam apenas 8% do total livre — reflexo de seu custo financeiro mais elevado e menor atratividade frente às opções normatizadas.
Desempenho no campo e fatores conjunturais
Ainda que o desempenho financeiro inicial ofereça um retrato provisório do comportamento da nova safra, o setor permanece atento a fatores conjunturais como preços agrícolas, custos de insumos e variações climáticas. Esses elementos impactam diretamente tanto a demanda por crédito quanto o tempo de resposta dos produtores, tornando o primeiro bimestre uma referência parcial e sujeita a reavaliações nos meses seguintes.
Outro ponto relevante é a ampla rede de instituições financeiras habilitadas a operar com recursos equalizados — atualmente 25 no total, incluindo o BNDES. Essa pluralidade é estratégica, pois permite a descentralização dos financiamentos e favorece a contratação em programas de alta demanda, como o Moderfrota, o Renovagro, o PCA, o Inovagro e o Proirriga, mesmo quando há escassez de recursos em uma instituição específica.
Assim, o cenário que se desenha até o momento é de cautela operacional, mas com potencial de expansão, sustentado por uma estrutura de crédito agrícola que segue sólida e adaptável às variações de mercado. O Plano Safra 2025/2026, embora ainda no início do seu ciclo, demonstra resiliência diante dos desafios e se mantém como pilar central para o financiamento da produção agropecuária nacional.