Na rotina do campo, cada decisão influencia diretamente os resultados da colheita — e, mais do que nunca, a escolha da planta de cobertura se revela uma aliada essencial para o sucesso do cultivo. Em meio a desafios como erosão, compactação do solo e perda de nutrientes, agricultores têm recorrido a espécies como sorgo, milheto, braquiária e crotalária, que dominam cada vez mais os sistemas produtivos no Brasil. De acordo com levantamentos recentes, mais de 74% dos produtores já adotam essa técnica, reconhecendo seus benefícios na saúde do solo e na rentabilidade da lavoura.
Segundo o engenheiro agrônomo Marcelo Landim, consultor em sistemas de plantio direto, as plantas de cobertura funcionam como uma espécie de “seguro agrícola verde”. “Além de proteger o solo, essas espécies otimizam o aproveitamento da água, melhoram a estrutura física do terreno e ainda ajudam no controle biológico de pragas”, explica.
Braquiária: cobertura versátil para solos exigentes
Entre todas as opções disponíveis, a braquiária (Urochloa spp.) desponta como uma das mais escolhidas por agricultores em diferentes regiões do país. Seu sistema radicular profundo ajuda a descompactar o solo e formar uma palhada densa, que age como barreira contra o ressecamento, reduzindo drasticamente a perda de umidade. Além disso, seu crescimento vigoroso e resistência à seca a tornam ideal para regiões de clima mais severo, como o Cerrado brasileiro.

O destaque da braquiária não se limita à sua rusticidade. Ela também se integra com facilidade a sistemas de Integração Lavoura-Pecuária (ILP), permitindo que a mesma área seja utilizada para pastagem após o período de cobertura, o que amplia a produtividade e otimiza o uso da terra.
Milheto e sorgo: alternativas estratégicas para o verão
Nas janelas de entressafra, o milheto (Pennisetum glaucum) é frequentemente adotado por sua rápida emergência, alto volume de biomassa e notável capacidade de ciclagem de nutrientes. Ele atua de forma eficaz na cobertura do solo durante os meses mais quentes, promovendo a incorporação de matéria orgânica e ajudando na supressão de plantas daninhas.

Já o sorgo (Sorghum spp.), além de ser tolerante à seca, oferece resistência a pragas e doenças comuns em áreas tropicais. Sua biomassa rica em lignina contribui para a formação de uma palhada mais persistente, o que favorece cultivos posteriores, como a soja e o milho.

O uso estratégico dessas duas culturas na cobertura do solo reduz a pressão de infestação por nematoides, o que diminui a dependência de defensivos químicos e favorece a sustentabilidade agronômica.
Crotalária: a leguminosa que combate nematoides
Outra planta que tem ganhado destaque é a crotalária (Crotalaria juncea). Por ser uma leguminosa, ela fixa nitrogênio no solo, reduzindo a necessidade de adubação química. Mais do que isso, seu grande trunfo é o efeito biológico no combate aos nematoides — microrganismos que comprometem o sistema radicular das culturas subsequentes.

De acordo com a bióloga e pesquisadora Renata Baggio, a crotalária é uma ferramenta de manejo ecológico de altíssimo valor. “Ela é uma aliada do produtor que busca produtividade com menos impacto ambiental. Sua presença no sistema agrícola reduz o uso de químicos e ainda contribui com a biodiversidade do solo”, pontua.